07 setembro 2007
Pierre Henry, música concreta no Auditório Ibirapuera
Uma Orquestra de Altofalantes, 50 deles, espalhados pela sala, apontados para as paredes e para o teto, colocados como um coro ao centro no fundo do palco, em grupos frontais apontando direto para a plateia, em grupos de caixas menores, rentes ao chão, em linhas nas paredes ao lado, suspensos no alto ao fundo, mais o sistema suspenso do Auditório.
Uma palheta de possibilidades de difusão.
Uma mesa de som conecta duas pistas, o mesmo som do CD estéreo, a todas estas linhas de altofalantes, eram 21 saidas, cada uma poderia ser manipulada, alterando o volume e o canal - esquerdo ou direito - que era enviado para cada linha de falantes.
No centro da platéia, Etienne, assistente de Pierre Henry usa estes controles para colocar os sons "no espaço", enviando só para o grupo no fundo do palco, trazendo para a frente, em movimentos precisos, fluentes, imperceptiveis. Jamais se "ouviu" a mão dele alterando os parametros, tudo acontecia como se tivesse sido concebido assim, espalhando-se num panorama sensorial como nuvens, como raios do por do sol, como lufadas de vento. O próprio9 conteudo sonoro se encarregava da distribuição espacial, variando de acordo com o espectro ou com a natureza das caixas de som e sua posição.
É uma técnica refinada, única, jamais havia visto nesta escala. Modelos anteriores? Sim, mas bem artezanais, caixas ao fundo da platéia, como num espetáculo com Walter Franco, nos idos de 70, alguma bricadeira com "surround" nas trilhas de cinema, nada muito sério, meros efeitos.
Stockhausen, trouxe seu PA com 8 fontes de direção, um cubo sonoro, mas que reproduziam 8 pistas concebidas como 8 canais separados e o resultado espacial era apenas o resultado da soma no ar destas fontes separadas. Funcionava, mas era específico.
Pierre Henry propos uma outra brincadeira: espacializar as duas pistas, o sinal estéreo, dentro da sala, resolveu um problema que me afligia, como apresentar toda a produção sonora, fonografica, tudo que foi feito em CD, enfim praticamente toda a música do século XX.
Ligar um sistema de som de alta qualidade, como este do Auditório Ibirapuera, aos dois canais de um CD resulta em uma audição *pobre* limitada em seu relevo sonoro, que passa a depender de estimulos visuais, video etc para seduzir e induzir à introspecção, a atenção dedicada.
Usando esta Orquestra de Altofalantes, ao se massagear o senso de espaço físico, a percepção do espaço como descrito pelo ouvido, cria-se um campo indutor, um elemento de sedução que conquista a atenção pela hora inteira de cada peça.
Não sei se também não será especifico, dependendo de uma vida a serviço desta forma de interpretação sonora e morrendo com seu criador. Não sei se vai se transformar numa forma de arte, com sua escrita e seu canone, reproduzivel ao longo dos séculos e sempre renovada pela interpretação sensivel de um ser humano.
Mas que foi emocionante foi. Iluminou com rara beleza uma forma musical árida e desconectada de nossas emoções estéticas, como uma nova arquitetura ainda sem história.
Pierre Henry e Niemeyer, talvez estes nomes voltem a ressoar juntos.
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