Querido diario,
Ontem fugi até a Livraria Cultura para o lançamento do livro do Zuza Homem de Mello, "Música Nas Veias". Não consegui paciencia para encarar a fila de autógrafos e dormi mal achando que não havia mostrado o devido respeito ao Zuza, ao comprar um livro, dar um oi rápido para Ercilia e sair correndo. Falta de jeito.
Algumas horas depois já sei porque o Zuza é um dos meus idolos, devorando em alta velocidade seu livro. Está lá, é um fato, música pode correr nas veias. Muito de quem eu sou pode ter sido moldado pelo trabalho de Zuza na TV Record, na Radio Jovem Pan, por ai. Muito do que eu fiz ou ainda faço é fruto de Zuza ter aberto o caminho e percorrido o trajeto até criar a trilha na mata virgem. Lidar com o show biz com naturalidade, sem medo do mercado, gerando resultados pragmaticamente...estéticos. O respeito pelas "músicas" todas: jazz, sertanejo, choro ou pop, a convivencia entre elas e o fato de que são pessoas, sempre, fazendo música.
Se puder, não perca, nas livrarias.
Mas o dia foi mais livro ainda. Mario Cohen, meu presidente no Auditório Ibirapuera, através de uma linha fixa em seus emails agora avisa que está escrevendo seu livro online. Veja no site dele.
O nome "Não É Branding" vem de uma excelente definição do trabalho dele, inserir uma empresa na sociedade. Pelo resumo apetitoso vai ser interessante acompanhar o trabalho, ao longo de 18 misticos meses, como prometido. Saravá, Mario, voluntario do bem.
12 setembro 2007
07 setembro 2007
Pierre Henry, música concreta no Auditório Ibirapuera
Uma Orquestra de Altofalantes, 50 deles, espalhados pela sala, apontados para as paredes e para o teto, colocados como um coro ao centro no fundo do palco, em grupos frontais apontando direto para a plateia, em grupos de caixas menores, rentes ao chão, em linhas nas paredes ao lado, suspensos no alto ao fundo, mais o sistema suspenso do Auditório.
Uma palheta de possibilidades de difusão.
Uma mesa de som conecta duas pistas, o mesmo som do CD estéreo, a todas estas linhas de altofalantes, eram 21 saidas, cada uma poderia ser manipulada, alterando o volume e o canal - esquerdo ou direito - que era enviado para cada linha de falantes.
No centro da platéia, Etienne, assistente de Pierre Henry usa estes controles para colocar os sons "no espaço", enviando só para o grupo no fundo do palco, trazendo para a frente, em movimentos precisos, fluentes, imperceptiveis. Jamais se "ouviu" a mão dele alterando os parametros, tudo acontecia como se tivesse sido concebido assim, espalhando-se num panorama sensorial como nuvens, como raios do por do sol, como lufadas de vento. O próprio9 conteudo sonoro se encarregava da distribuição espacial, variando de acordo com o espectro ou com a natureza das caixas de som e sua posição.
É uma técnica refinada, única, jamais havia visto nesta escala. Modelos anteriores? Sim, mas bem artezanais, caixas ao fundo da platéia, como num espetáculo com Walter Franco, nos idos de 70, alguma bricadeira com "surround" nas trilhas de cinema, nada muito sério, meros efeitos.
Stockhausen, trouxe seu PA com 8 fontes de direção, um cubo sonoro, mas que reproduziam 8 pistas concebidas como 8 canais separados e o resultado espacial era apenas o resultado da soma no ar destas fontes separadas. Funcionava, mas era específico.
Pierre Henry propos uma outra brincadeira: espacializar as duas pistas, o sinal estéreo, dentro da sala, resolveu um problema que me afligia, como apresentar toda a produção sonora, fonografica, tudo que foi feito em CD, enfim praticamente toda a música do século XX.
Ligar um sistema de som de alta qualidade, como este do Auditório Ibirapuera, aos dois canais de um CD resulta em uma audição *pobre* limitada em seu relevo sonoro, que passa a depender de estimulos visuais, video etc para seduzir e induzir à introspecção, a atenção dedicada.
Usando esta Orquestra de Altofalantes, ao se massagear o senso de espaço físico, a percepção do espaço como descrito pelo ouvido, cria-se um campo indutor, um elemento de sedução que conquista a atenção pela hora inteira de cada peça.
Não sei se também não será especifico, dependendo de uma vida a serviço desta forma de interpretação sonora e morrendo com seu criador. Não sei se vai se transformar numa forma de arte, com sua escrita e seu canone, reproduzivel ao longo dos séculos e sempre renovada pela interpretação sensivel de um ser humano.
Mas que foi emocionante foi. Iluminou com rara beleza uma forma musical árida e desconectada de nossas emoções estéticas, como uma nova arquitetura ainda sem história.
Pierre Henry e Niemeyer, talvez estes nomes voltem a ressoar juntos.
05 setembro 2007
A salvação da lavoura - Rick Rubin no NYTimes
Parece que só o que sai no NYT atrai a atenção devida, mas é por ai, lá tem gente se preocupando em trazer contexto para este mundo louco. Pois bem, agora é uma enorme matéria sobre o fato pouco noticiado que a Columbia trouxe Rick Rubin para o papel de co-cacique. Se não souber quem é ele, volte dois cliques e suma.
Vale em qualquer parte do planeta o óbvio de que música é arte e seu negócio não pode perder isto de vista. Vale tambem o óbvio que não é isto que acontece. Portanto temos ai o mistério, irá RR mudar o curso do Titanic ou será salvo pela união das majors em torno do "novo modelo" de cobrar por assinatura?
Com todo o respeito, não será este ultimo "hit man" que irá trazer este alento, mesmo usando focus groups, boca a boca ou todo seu estoque de magia dos estudios. Gostaria muito que fosse e gostaria muito de poder acreditar que haveria chances de reverberar aqui no Brasil uma mudança de estilo administrativo.
O buraco negro é mais embaixo, não há mais lugar para o gosto imperial de RR, por mais amplo que seja, dominar todos os sub dominios, o mangue da miscelanea e do tag, o predominio do efemero e do irrisório. O gosto coletivo é um pauzinho na enxurrada, levado pela estréia do TIM Festival, pela nova série da Disney, por qualquer outro fato público que tenha trilha sonora. Acabou a máquina de hits, por mais que ainda pareça que dominar uma major implica em dominar o mundo.
As canções precisam ser cultivadas novamente uma a uma cada vez que for tocada e ouvida, precisam existir na cabeça das pessoas como existem na cabeça de RR, que ouve atentamente cada detalhe, mas não ensina como ouvir.
Ei Ricky! Venha tocar um teatro todos os dias, talvez voce saque.
Vale em qualquer parte do planeta o óbvio de que música é arte e seu negócio não pode perder isto de vista. Vale tambem o óbvio que não é isto que acontece. Portanto temos ai o mistério, irá RR mudar o curso do Titanic ou será salvo pela união das majors em torno do "novo modelo" de cobrar por assinatura?
Com todo o respeito, não será este ultimo "hit man" que irá trazer este alento, mesmo usando focus groups, boca a boca ou todo seu estoque de magia dos estudios. Gostaria muito que fosse e gostaria muito de poder acreditar que haveria chances de reverberar aqui no Brasil uma mudança de estilo administrativo.
O buraco negro é mais embaixo, não há mais lugar para o gosto imperial de RR, por mais amplo que seja, dominar todos os sub dominios, o mangue da miscelanea e do tag, o predominio do efemero e do irrisório. O gosto coletivo é um pauzinho na enxurrada, levado pela estréia do TIM Festival, pela nova série da Disney, por qualquer outro fato público que tenha trilha sonora. Acabou a máquina de hits, por mais que ainda pareça que dominar uma major implica em dominar o mundo.
As canções precisam ser cultivadas novamente uma a uma cada vez que for tocada e ouvida, precisam existir na cabeça das pessoas como existem na cabeça de RR, que ouve atentamente cada detalhe, mas não ensina como ouvir.
Ei Ricky! Venha tocar um teatro todos os dias, talvez voce saque.