26 outubro 2007

Como foi que aconteceu este pesadelo? Parte 1

Nas andanças por ai, apareceu este artigo no blog do Lenny Beer, que escreve no Hits Daly Double, uma revista do entretenimento/radio/showbiz e discos, o complexo fonografico, modelo antigo. Coisa de profissionais calejados para ratazanas do mercado. Zero Arte. Uma folheada mostra a animada dança das cadeiras na industria, a fofoca que o ex capitão da EMI teve de devolver as chaves de um belo apartamento corporativo em Londres ao ser despedido pelo novo dono do Abbey Road. Outra matéria é sobre o torneio de golfe entre os donos da midia, ou ainda a noite de caridade em beneficio da fundação que tem o nome da própria mulher do Gene Simmons do Kiss, um empreendedor maniaco. Enfim, deu para perceber que o negócio são os negócios.
Pois o Lenny Beer parece que anda lendo o Lefsetz que citei ontem e foi tomado por um súbito acesso de auto crítica, se perguntando o que pode ter causado tamanho revertério no gentil mundo da música que fazia um adolescente gastar seus trocados em singles de 45, aqueles que tinham um furo grande no meio e que continham música tão poderosa que fizeram ele se dedicar a trabalhar com isso a vida inteira. Como foi acontecer este pesadelo? Parte 1.

Seguem-se alguns metros da melhor prosa sobre a industria fonografica, pelos leitores do referido magazine. Uma parte dizendo que deve se incluir os meninos que fazem downloads ilegais no rol dos terroristas procurados e outra parte, a maioria, simplesmente apontando com incrivel precisão para a própria industria e sua cobiça e má administração, repetindo, agora com conhecimento de causa, como teria sido fácil cooptar o Napster, como a internet teria multiplicado por mil o poder e a glória, como foi que eles - geralmente os ex patrões - foram tão cegos e perderam tudo.
Perderam o radio, para as radios que só tocam comerciais e leem noticias, perderam a arte perdida de descobrir talentos para o You Tube e por ai vai, quase sinto um gosto de vingança se não fosse tão triste.
A maioria concorda que a música vai bem, mas o negócio da música jamais será o mesmo.

Faço questão de por estas palavras ao vento aqui, porque sei que ainda não está sendo proferido este discurso em portugues e será necessario que se purgue esta culpa, para que começe a cair a ficha geral por aqui também.

Foi no meio da década de 1985 que música virou produto. Também acho.

Vale muito a leitura.
E preparem seu coração, porque vem ai a parte dois de "Como Foi Que Aconteceu Este Pesadelo?"

25 outubro 2007

Lendo o Lefsetz Letters e filosofando sobre música.

Tenho lido diariamente o Lefsetz, que é do ramo da música, um analista profissional, e vem escrevendo faz muito tempo um newsletter, era de papel e cheguei a assinar, no século XX. Pois o blog dele tem se transformado num diario de coração aberto, coisa de separado novo e ele anda meio emocional, procurando onde foi parar o amor que ele tinha pela música e que de repente se perdeu na cacofonia do mercado fonografico dos ultimos anos trovejantes. Pois não é que dá uma felicidade incrivel ao ver que ele está sim redescobrindo que a música é digna do nosso amor e que as canções são obras de arte que modificam a vida do sujeito e que, no meio disto tudo ainda pode existir aquele fogo sagrado que fez a nossa cabeça nos 50, 60, 70 e 80.

Acho que é melhor voces investirem um tempo lá, pode valer a pena, parece um bom livro de estrada.
Pois hoje fui responder um questionario de trabalho de escola, sobre industria fonografica, coisa que me acontece de vez em quando, e quando vi, já estava filosofando sobre música e acho que gostei, até citei o Lefsetz. Portanto , trago na integra e se alguem quiser cooperar com a Juliana, pode responder e mandar direto para ela.
Só deixando anotado, que o Antony and the Johnsons acabou agora mesmo e que foi Belo e emocionante, muito melhor que nos discos e capaz de mudar tua vida.

Questionário | Monografia “GARAGEM DIGITAL” | Por Juliana Guerrero Garcia [guerrero.ju@gmail.com]

1. O que é música para você?

“Algo que faz vir á tona o melhor de nós.” http://lefsetz.com/wordpress/

2. Qual a relação entre o seu trabalho e a música?

Minha profissão é produtor musical, fazer acontecer a música, sem tocar nenhum instrumento.

3. Quais são as mídias que você utiliza para escutar música:

( ) Rádio

( ) TV

( ) CD

( ) DVD

( ) Internet

( ) Celular

( ) MP3 Player

( ) Outros. Cite: Todas e nenhuma, ouço com meus ouvidos.

4. Cite um músico que você aprecie. Por quê?Qualquer um que consiga me tocar, a lista é variavel com os humores e com a lua.

5. Qual a importância da música para a publicidade? Qual jingle e/ou música mais te marcou até hoje? Cobertores Parahyba. A importancia da publicidade para a música é quase nenhuma.

6. Qual é o papel do rádio para um músico? E o da TV? No século XX, o radio mostrava as musicas que todo mundo ouvia, a TV mostrava como os músicos se mexiam e o que eles vestiam. Hoje, no radio, ouvimos noticias e um xarope auditivo feito para acalmar o tédio e mudamos de canal se aparece música na TV, não é? Ou sou eu na meia idade?

7. Você costuma baixar música pela Internet? Como?Sim, como informação, como meio de ouvir o que se faz de música nova, como meio de escutar as músicas que não estão á venda, como meio de me situar como público ouvinte, descobrir o que gosto ou não.

8. Como você percebe a relação entre a Internet e/ou tecnologia e os músicos?

É um canal de transmissão, entre alguem que empunha um instrumento musical e meus ouvidos, muito util.

9. Como você descobre novos músicos e bandas hoje em dia? Confiando no acaso, que coloca coisas incriveis na frente da gente.

10. Qual é o papel da gravadora para um artista hoje? As Majors: Restrito ás dezenas de artistas ativos com contrato assinado, portanto irrelevante para a música. Os independentes podem ser um parceiro de trabalho.

11. Você acredita que o modelo da indústria fonográfica atual está certo? Por quê? Não existe modelo atual. Existe o modelo circa 1985 patinando sem chegar em 1986...

12. Qual a sua opinião sobre pirataria musical? Sou solidario aos músicos. Para alguns é a morte comercial, para os outros é tudo que eles tem.

13. Qual o futuro da música diante da era digital? Como será o processo de consumo da música? Continuaremos sentindo as mesmas emoções que são transmitidas pelas músicas, desde que elas nos encontrem da maneira certa e tanto faz o caminho que elas percorrem até nossos ouvidos e corações. O resto é tão importante quanto o discurso pelo fim das guitarras elétricas, passará sem eco.

14. Você usaria a Internet para divulgar músicas de sua banda? Por quê? Porque funciona, oras.

15. Você acredita que esta evolução da maneira de se usufruir a música é positiva ou negativa para a sociedade? Explique

Perdão, não evoluiu nada. Continuamos a ouvir a música em volta de nós, desde o tempo que descobrimos que gostamos de música o dia inteiro. Antes do ipod havia o radio transistor, e antes dele o gramofone e antes dele assobiavamos, carregavamos uma gaita no bolso ou a flauta de osso de 40 mil anos atrás, que já era portatil.

Há uma industria contemporanea, que costuma contribuir com empregos e renda para a sociedade, particularmente para seus maiores acionistas.

16 Você gostaria de destacar algum aspecto sobre o assunto, que não foi discutido neste questionário? Cite

OK, eu acompanho avidamente todas as noticias e novidades tecnologicas, o borbulhar de todas as tendencias, o turbilhão de negocios que afundam e que prosperam aparentemente todos querendo fazer a mesma coisa, atender o consumidor e seu desejo permanente de música.

Embaixo da ponte já passaram o vinil, o CD, o mp3, a frase Disco é Cultura, a critica musical, lembra? Tenho certeza que voce sabe do que estou falando e que se tapar o ouvido para a balburdia do mercado, vai escutar uma melodia. Escute, musica é só isso.

Pena Schmidt,

(acho que vou publicar em meu blog, me diverti)

01 outubro 2007

Radiohead novo: quanto voce pagou? In Rainbows na cabeça.

(Este post vai seguir o assunto e mudar com ele)
em 2 de outubro de 2007:

Fulminante!
Polêmica estabelecida aos primeiros minutos da divulgação da sacanagem proposta pelo Radiohead no site In Rainbows, nome do disco.

" ... Fizemos um disco novo ( inédito na rede!!!) e ele está disponivel apenas neste site.
Aqui voce compra um download ou um pacote de plástico com extras e bolachas de vinil e tudo que os fãs tem direito, por 40 Libras.
O download custa o que voce quiser pagar, mais uma taxa de 0,45 libras, um real e pouco. IS UP TO YOU! * VOCE DECIDE QUANTO VALE! *..."

Deve ferver. Meu palpite é um milhão de downloads pagos, até 10 de outubro, quando começarão a ser entregues. Meu outro palpite é que o valor médio será 5 libras, ai um real por música. Veremos...

Esta aposta na inteligência do mercado diz o seguinte:
1) chega de intermediarios e pedágios, as gravadoras perdem espaço, sempre.
2) deixar aparente quanto vale a música, isto é um leilão e pode surpreender.
3) boas idéias ainda valem por si mesmas, garantiu a nossa atenção, certo?
4) o mundo é pop e gosta de ter assunto, será que eles vão perder dinheiro?
5) e tem um desafio: paguei mais ou menos do que vale?

Espero que eu goste, porque não resisti e comprei, por 5 libras, eles merecem!

(3/out)
No dia seguinte: Como era de se esperar, deu em todos os jornais importantes, em todos os blogs de música e promete continuar pelos próximos dias. Um artigo interessante no "Freakonomics" do NYTimes, para variar, traz uma excelente amostragem das opiniões dos leitores, com enfase nos aspectos economicos da proposta, confira aqui.

(13/out)
No fim dos dez dias, um primeiro balanço: chegou, ouvi e gostei, é pop do século XXI, deixa marcas, não descartavel e estou tocado pela melancolia transparente que também sinto nestes dias de luta. O mundo está triste e pensa na morte, como eu. Os artistas precisam fazer isto, para ser música.
Gastei bem meu dinheiro, mostro para todo mundo e empresto com um certo sabor de proprietario. O som é imaculado e deu vontade de ter os vinis para ouvir Tudo. Funciona, como há muito tempo não via. Que venham os próximos, não vai ficar só neles.

Ontem conversei com Mauricio Tagliari, meu personagem leitor, falei sobre outros que irão seguir a idéia. Já deu no jornal. Oasis, Jamiroquai, Charlatans, a lista começa.

Se funciona, por que não? Chama-se passar o chapéu. Quanto voce paga pelo que pode ter de graça? Só se me convencer, não é? Adeus music business, marketing, e numeros de vendas como donos do pedaço. Voltem 2 décadas e retornem á posição auxiliar.

O novo dono da EMI gostaria muito de acordar sua companhia, seu Hands, mas não há o que fazer, a não ser inventar um motor movido a xixi de elefante e se transformar no dono de todos os elefantes, esqueça a industria automobilistica. A tese não é minha.

Ainda ao som de In Rainbows, rolam boatos de dois numeros: um milhão de downloads, dois terços pagantes e o preço médio apurado em pesquisas foi 7 dólares, estou um milimetro acima da média. Uns 5 milhas pra banda, not bad.

Propus quase isso em 2004 na Trama, com a Fernanda Porto, tivemos mais de cinquenta mil downloads incentivados, só faltou passar o chapéu.

12 setembro 2007

Livros, lembra?

Querido diario,
Ontem fugi até a Livraria Cultura para o lançamento do livro do Zuza Homem de Mello, "Música Nas Veias". Não consegui paciencia para encarar a fila de autógrafos e dormi mal achando que não havia mostrado o devido respeito ao Zuza, ao comprar um livro, dar um oi rápido para Ercilia e sair correndo. Falta de jeito.
Algumas horas depois já sei porque o Zuza é um dos meus idolos, devorando em alta velocidade seu livro. Está lá, é um fato, música pode correr nas veias. Muito de quem eu sou pode ter sido moldado pelo trabalho de Zuza na TV Record, na Radio Jovem Pan, por ai. Muito do que eu fiz ou ainda faço é fruto de Zuza ter aberto o caminho e percorrido o trajeto até criar a trilha na mata virgem. Lidar com o show biz com naturalidade, sem medo do mercado, gerando resultados pragmaticamente...estéticos. O respeito pelas "músicas" todas: jazz, sertanejo, choro ou pop, a convivencia entre elas e o fato de que são pessoas, sempre, fazendo música.
Se puder, não perca, nas livrarias.

Mas o dia foi mais livro ainda. Mario Cohen, meu presidente no Auditório Ibirapuera, através de uma linha fixa em seus emails agora avisa que está escrevendo seu livro online. Veja no site dele.

O nome "Não É Branding" vem de uma excelente definição do trabalho dele, inserir uma empresa na sociedade. Pelo resumo apetitoso vai ser interessante acompanhar o trabalho, ao longo de 18 misticos meses, como prometido. Saravá, Mario, voluntario do bem.

07 setembro 2007

Pierre Henry, música concreta no Auditório Ibirapuera


Uma Orquestra de Altofalantes, 50 deles, espalhados pela sala, apontados para as paredes e para o teto, colocados como um coro ao centro no fundo do palco, em grupos frontais apontando direto para a plateia, em grupos de caixas menores, rentes ao chão, em linhas nas paredes ao lado, suspensos no alto ao fundo, mais o sistema suspenso do Auditório.
Uma palheta de possibilidades de difusão.
Uma mesa de som conecta duas pistas, o mesmo som do CD estéreo, a todas estas linhas de altofalantes, eram 21 saidas, cada uma poderia ser manipulada, alterando o volume e o canal - esquerdo ou direito - que era enviado para cada linha de falantes.
No centro da platéia, Etienne, assistente de Pierre Henry usa estes controles para colocar os sons "no espaço", enviando só para o grupo no fundo do palco, trazendo para a frente, em movimentos precisos, fluentes, imperceptiveis. Jamais se "ouviu" a mão dele alterando os parametros, tudo acontecia como se tivesse sido concebido assim, espalhando-se num panorama sensorial como nuvens, como raios do por do sol, como lufadas de vento. O próprio9 conteudo sonoro se encarregava da distribuição espacial, variando de acordo com o espectro ou com a natureza das caixas de som e sua posição.
É uma técnica refinada, única, jamais havia visto nesta escala. Modelos anteriores? Sim, mas bem artezanais, caixas ao fundo da platéia, como num espetáculo com Walter Franco, nos idos de 70, alguma bricadeira com "surround" nas trilhas de cinema, nada muito sério, meros efeitos.
Stockhausen, trouxe seu PA com 8 fontes de direção, um cubo sonoro, mas que reproduziam 8 pistas concebidas como 8 canais separados e o resultado espacial era apenas o resultado da soma no ar destas fontes separadas. Funcionava, mas era específico.
Pierre Henry propos uma outra brincadeira: espacializar as duas pistas, o sinal estéreo, dentro da sala, resolveu um problema que me afligia, como apresentar toda a produção sonora, fonografica, tudo que foi feito em CD, enfim praticamente toda a música do século XX.
Ligar um sistema de som de alta qualidade, como este do Auditório Ibirapuera, aos dois canais de um CD resulta em uma audição *pobre* limitada em seu relevo sonoro, que passa a depender de estimulos visuais, video etc para seduzir e induzir à introspecção, a atenção dedicada.
Usando esta Orquestra de Altofalantes, ao se massagear o senso de espaço físico, a percepção do espaço como descrito pelo ouvido, cria-se um campo indutor, um elemento de sedução que conquista a atenção pela hora inteira de cada peça.
Não sei se também não será especifico, dependendo de uma vida a serviço desta forma de interpretação sonora e morrendo com seu criador. Não sei se vai se transformar numa forma de arte, com sua escrita e seu canone, reproduzivel ao longo dos séculos e sempre renovada pela interpretação sensivel de um ser humano.
Mas que foi emocionante foi. Iluminou com rara beleza uma forma musical árida e desconectada de nossas emoções estéticas, como uma nova arquitetura ainda sem história.
Pierre Henry e Niemeyer, talvez estes nomes voltem a ressoar juntos.

05 setembro 2007

A salvação da lavoura - Rick Rubin no NYTimes

Parece que só o que sai no NYT atrai a atenção devida, mas é por ai, lá tem gente se preocupando em trazer contexto para este mundo louco. Pois bem, agora é uma enorme matéria sobre o fato pouco noticiado que a Columbia trouxe Rick Rubin para o papel de co-cacique. Se não souber quem é ele, volte dois cliques e suma.
Vale em qualquer parte do planeta o óbvio de que música é arte e seu negócio não pode perder isto de vista. Vale tambem o óbvio que não é isto que acontece. Portanto temos ai o mistério, irá RR mudar o curso do Titanic ou será salvo pela união das majors em torno do "novo modelo" de cobrar por assinatura?
Com todo o respeito, não será este ultimo "hit man" que irá trazer este alento, mesmo usando focus groups, boca a boca ou todo seu estoque de magia dos estudios. Gostaria muito que fosse e gostaria muito de poder acreditar que haveria chances de reverberar aqui no Brasil uma mudança de estilo administrativo.
O buraco negro é mais embaixo, não há mais lugar para o gosto imperial de RR, por mais amplo que seja, dominar todos os sub dominios, o mangue da miscelanea e do tag, o predominio do efemero e do irrisório. O gosto coletivo é um pauzinho na enxurrada, levado pela estréia do TIM Festival, pela nova série da Disney, por qualquer outro fato público que tenha trilha sonora. Acabou a máquina de hits, por mais que ainda pareça que dominar uma major implica em dominar o mundo.
As canções precisam ser cultivadas novamente uma a uma cada vez que for tocada e ouvida, precisam existir na cabeça das pessoas como existem na cabeça de RR, que ouve atentamente cada detalhe, mas não ensina como ouvir.
Ei Ricky! Venha tocar um teatro todos os dias, talvez voce saque.

26 maio 2007

Zonbox: por 100 dolares, o computador quase perfeito

Uma caixa silenciosa, que se liga na internet e pronto. Lá dentro, um PC movido a Linux, um cartão de imagem que deixa usar monitor de 19, memoria Ram de 4 gigas e só. Uma suite de programas fica instalada na memoria, seus dados vão pela internet e ficam guardados "lá", num endereço de prestigio, os servidores da Amazon. Ou seja, partida instantanea e backup permanente. Os programas -de texto, som, imagem, fotos, planilhas etc etc - são atualizados constantemente. Garantia de tres anos no equipamento. Hmm o que acontece quando estamos sem banda larga? O mundo ficaria sem sentido, concordo, mas talvez seja preciso guardar umas coisinhas num bastãozinho de memoria.
Limpo, silencioso, funciona sempre, não esquece nada. Por apenas duzentos reais. Mais uma continha de 30 reais por mes, para manter a coisa acesa.
Nada mau, mais uma volta no parafuso do fim do mundo como conhecemos.

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17 abril 2007

Crítica musical: molduras e contextos novamente

Deu no NYTimes, portanto...

OPINION
| February 26, 2007
Op-Ed Contributor: Shoot the Piano Player
By DENIS DUTTON
The Joyce Hatto episode is a stern reminder of the importance of framing and background in criticism.

Resumindo: por um acaso tecnológico descobriu-se que um disco de piano erudito era igual a outro, de um pianista menos famoso. Na rede foi sendo desvendada uma história digna de um filme. Não era apenas uma semelhança, era uma cópia, até o ultimo bit. Mais ainda, não seria apenas aquele CD, mas a obra completa de uma das maiores pianistas contemporaneas da Inglaterra, Joyce Hatto, que reclusa em sua casa no campo com seu marido técnico de som, havia gravado centenas de CDs, um verdadeiro passeio por todos os repertórios, por toda a música clássica ao longo de 20 anos. Tudo roubado, de gente nova, talentosos desconhecidos. A crítica chegou a comparar discos - o original, de um novato e a copia, da consagrada - que sempre foi considerada ´mais expressiva´. Não despertou atenção a incrivel variedade de estilos, a técnica absolutamente perfeita nem a ausencia de performances ao vivo. Grandes concertos com Orquestras fantasmas, sempre regidos por um Maestro também fantasma, sem nenhum outro crédito a não ser nas capas de discos de Joyce Hatto. Tudo roubado, todos enganados. Pouco antes dela morrer, em santa glória, circulou a versão de que havia gravado em seus ultimos momentos numa cadeira de rodas. O marido perfeito negou tudo até se comprovar a fraude disco a disco. A crítica alega que as interpretações eram boas, impecaveis, e que agora se fará justiça a tantos talentos *revelados* por ela. Podem crer.

Checa ai:
http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw



E o novo sempre vem...

Netvibes. Vale a pena ir conferir do que se trata!
É dificil descrever, mas é como um google em 3D, tudo ao mesmo tempo agora - fotos, videos, blogs, noticias, tudo o que te interessa, sempre no mesmo lugar.
Danou-se. Extremamente aditivo. E continua a melhorar. Em portugues, de graça e funciona.



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15 abril 2007

Contexto e moldura - Pérolas antes do café

Deu no NYTimes:

Joshua Bell is one of the world's greatest violinists. His instrument of choice is a multimillion-dollar Stradivarius. If he played it for spare change, incognito, outside a bustling Metro stop in Washington, would anyone notice?

Resumindo: Joshua Bell é jovem, atlético, cabelos fartos e soltos, toca seu Stradivarius com o corpo todo, comunica seu talento de forma indiscutivel. Cobra uma fortuna por minuto, faz uma carreira pontuada por apresentaçoes filantropicas ou de apoio a causas culturais, não tem medo de sair fora do nicho confortavel do mundo erudito americano, que o idolatra como um dos melhores violinistas do mundo
Desafiado por um jornalista, topou se apresentar numa apresentação em troca de moedas, numa estação de metro, 7h45 da manhã. O jornalista levou uma equipe e fez um verdadeiro tratado, entrevistou os mil transeuntes, as testemunhas presentes no local, conversou antes com experts que previram multidões fora de controle, centenas de dolares na caixa do violino e garantiram que seu talento seria reconhecido.

Nada disso aconteceu. Apenas uma pessoa, fã confessa, parou na frente dele não acreditando no que via. Apenas um jovem ex violinista recebeu o impacto da performance e perdeu a hora, encostado numa parede. -"Quando ouvi o som percebi que era algo muito bom, quando o vi tocando percebi que era alguem com um talento fora do comum, com dominio absoluto da técnica." As outras pessoas, mal se lembravam de ter um músico ali, absortas no rumo do trabalho, insensiveis. Uma engraxate que fax ponto no local há anos, brasileira, disse que no Brasil teria sido diferente, as pessoas tem sensibilidade.
Após o concerto, no café da manhã, Joshua Bell, disse que o silencio após as músicas, a ausencia de aplauso, de conexão com o público, era aterradora.
Será que mesmo uma arte tão óbvia e invasiva não consegue comunicar-se, depende de contexto, de moldura apropriada?
O artigo, antologico, afirma que sim. Comentarios posteriores, da critica musical, alegaram sensacionalismo, que não se deve julgar talento fora de contexto, que a arte precisa de local apropriado. Esta era a tese e tambem concordo.



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04 abril 2007

O tempo que o tempo tem

Continua sendo dificil sincronizar os sistemas do mundo:





O celular está 2 minutos e 9 segundos atrasado



O computador estava 55 segundos atrasados, eu acertei agora

GMT fica combinado que é o certo, basta digitar GMT

Meu relógio está 42 segundos adiantado



OMetro está 14 segundos na frente do meu





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28 março 2007

Lendo e remoendo

Chris Anderson e o post copyright

Música numa economia de abundancia, que ele sintetiza assim:"dê a música e venda o show".



Estamos tentando perceber o que de fato acontece, mas ainda é cedo para transformar a realidade, ainda são "intuições", todo mundo tem seu palpite, uns racionalizando, outros angustiados.



Conversando com Mauricio Tagliari, na saida de uma reunião da ABMI, não conseguimos ter uma visão simples em comum. Ele pensa como músico, quer que jamais se abra mão do valor que tem o estudo, a carreira musical, o investimento que se faz para chegar numa obra. Não posso discordar, mas quem determina este valor, que critério? Como não cair nas malhas dos monopolistas de plantão, que querem pagar centavos pela autoria de um ringtone que é vendido por centenas de vezes mais? Como evitar que conversas como Creative Commons, economia do tecnobrega do Pará ou discursos sobre arte livre não criem exatamente a noção de "ausencia de valor", que é mais facil, mais romantica que uma conversa não muito intuitiva sobre o valor das coisas que "não custam nada", esta maldição do faraó que cai sobre tudo que é internet.



Eu me entusiasmo pelo avanço da discussão, é possivel pensar em reformar, dar um upgrade, uma levantada no conjunto de normas, práticas que foram juntadas a demandas da ABPD , leia-se o grande mercado da música e se transformaram nas leis que ai temos. E ficamos enredados, sem poder se mexer a não ser em terreno minado, defendido pela lei. Quer um exemplo, nos anos 70 ainda havia um recurso muito interessante, fruto de decadas de dores de cabeça, que era colocar-se as letras "DR" no rótulo do disco numa música que não tinha sido possivel conseguir a autorização. Direitos Reservados, se aparecer o dono eu pago. Hoje é crime fazer isto, nem pensar.



A reunião da ABMI tem todo um cenario de desespero e desamparo perante a falta de lógica que as pessoas que querem trabalhar a música encontram, é de arrepiar. Dificuldades para conseguir dialogar com os editores, donos das autorias, que pretendem receber dos que se apresentam para pedir autorizações, mas não pretendem facilitar em nada a burocracia ou a administração dos milhares de microtransações que acontecem num mercado de varejo, de poucas vendas grandes, no atacado.



É preciso pensar em reestruturar, como uma empresa que precisa se refazer para sobreviver.

Estamos no ramo de oferecer música aos que querem ouvir música, intermediar, facilitar, orientar, escolher, recomendar, apontar, divulgar, levar e trazer, este é o percurso do mercado. Há lugar para todos os intermediadores, facilitadores etc etc etc

Mas não é mais como já foi - mas a as leis são daquele tempo do mercado organizado por meia duzia de empresas, com acesso administrado à midia de massa e aos meios de produção - estudios, fábricas e as estrelas. Já era - estamos precisando reestruturar, mandar embora os funcionarios que perderam a função, despedir os que não se adaptam, reinvestir tempo e dinheiro em outras coisas que farão o trabalho anterior de outra forma, mais moderna, mais ao gosto do mercado, mais eficientes.

Uma empresa de onibus que investe em aviação, e dá certo. É mais ou menos por ai.

Mas como explicar para meus colegas do CD que é necessario discutir onde estão os valores hoje? Eu não sei, mas é preciso indagar e soltar rojões se alguem diz alguma coisa *diferente*. Porque sabemos que será *diferente*, terá de ser, assim caminha tudo. Terá pirataria no mundo? Ou terá deixado de ser pirataria? A tecnologia facilita a entrega do conteudo, porque não facilita a administração do conteudo? Porque os provedores de internet não são convocados para conversar? Porque não tem ninguem ainda falando disto de forma que eu e voce consigamos ouvir? E viva a era post-copyright, mesmo que seja só para comemorar mais um meme.

24 março 2007

Post-Copyright Era - Foi aqui que voce viu primeiro.

Acabei de ver no Michael Geist.

Ontem teve um painel na McGill University, com varias cabeças pensantes num debate aberto sobre reforma nos direitos autorais. Debate de alto nivel, presente o professor Fisher. O resumo é que o mundo precisa de uma nova forma de "patrocinar" os direitos autorais, uma vez que o direito de cópia já não faz sentido nem é respeitado. Novas industrias que necessitam de música, como transmissão de conteudo pela web, radio por satélite - e eu incluo os celulares - poderão ser o apoio á musica, alem de dinheiro público, do governo.



Já não era sem tempoque se enunciasse as palavras mágicas: "Post-Copyright".





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22 março 2007

Radar do Auditorio Ibirapuera

Se voce quer saber mais sobre o Auditório Ibirapuera e sua programação, visite o http://www.auditorioibirapuera.com.br assim tudojunto.



Mas quem foi ver Yamandu e Hamilton neste fim de semana pode ter visto o inicio de uma era, o poder do amor pela musica, a tecnica servindo a sensibilidade, o Belo, enfim, quem viu viu. Agora só depois.



E teve também o Bela Fleck, quarteto de feras, com um surpreendente fã clube que viajou de longe para ve-los nas duas sessões.



Os aplausos deste fim de semana pareciam gols e ficarão ecoando um tempo na sala.



O Tom Zé vem ai, só sexta e sábado e recomendo para quem precisa enxaguar a mente, e quem não precisa?





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08 março 2007

satori no tempo

Há varias maneiras de se conectar com o universo, uma delas é saber a hora certa.
Depois de acuradas medições, cheguei aos seguintes resultados, que indicam dificuldades em alcançar o satori por este caminho.

o relógio do celular TIM está 2:29s atrasado sobre zulu time, greenwich, GMT
o computador pode estar sincronizado com GMT, típico
o relogio do metro esta 23 segundos adiantado sobre GMT
o meu casio está 13 segundos na frente do metro, portanto 36 sobre GMT

28 fevereiro 2007

DRM ainda vivo.

Já lá se váo duas semanas e ainda estamos tentando ler as entrelinhas na mensagem de Jobs sobre DRM. Dois pontos interessantes conseguiram chamar minha atenção: o primeiro é a constatação que o DRM da Apple não sustenta qualidade igual ao CD (lossless), e isto começa a ficar audivel à medida que se disseminam outros usos do iPod, já que o mp3 do iPod soa razoavel no fonezinho de ouvido, mas perde pro CD na hora que se liga no som bacana da sala , veja na Wired.



Outro ponto interessante foi levantado no Register. Todo mundo já sabia que DRM não era bom e agora pode não estar sendo bom pro Jobs. Até ai tudo bem, mas aquele argumento da segurança para não poder licenciar o DRM Apple e portanto criar compatibilidade com todas as marcas de players, este argumento não cola porque a Microsoft licencia amplamente seu sistema de DRM e isto tem funcionado. A Apple talvez não tenha prática em licenciamento de suas tecnologias, nenhuma prática.



Sempre é bom ir conferir o blog do Professor Lessig, ele também deu seu palpite sobre o assunto "Jobs on DRM", provocativo e ao ponto, sugerindo que a Apple começe a colocar arquivos sem DRM, atendendo a pedidos dos artistas donos de suas obras. No momento estes pedidos são negados.



No mais, os de sempre exigem a permanencia do DRM.

A EMI desistiu da idéia de conseguir um dinheirinho extra, já que queria receber adiantamentos das lojas de download para liberar seu DRM. É óbvio que ninguem quis pagar pelo falso privilégio.





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25 fevereiro 2007

MS: multa de 1,5 BnUSD traz alternativas ao mp3?

Interessante matéria na Wired levanta possibilidades de se procurar alternativas ao mp3 no universo open source, eventualmente o formato Ogg poderia ser uma alternativa.



No inferno de Dante onde moram os advogados litigiadores não há sossego nem mesmo no open source, já que podem achar agum link entre o código escrito no tempo do Bell Labs e qualquer peça de software que veio depois, incluindo o google desktop...



Um analista comenta que esta errado o principio da reclamação da Lucent sobre Microsoft, que pagou ao laboratorio Fraunhoffer 16 mi USD para licenciar o ripador mp3 do Media Player 9 portanto Lucent deveria estar enviando a conta para Fraunhoffer.



Talvez tudo se resolva com uma liberação geral, já que não faz sentido ir buscar ressarcimento - mais uma vez - com cada um dos usuarios de mp3.







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