21 fevereiro 2018
Medindo reputações com listas de melhores do ano - #listadaslistas 2017 - parte um - Top51
Tudo começa com discussões sobre ferramentas para curadores de Música de festivais e casas de Música, no distante ano de 2013. Que tipo de critério para escolher artistas poderia existir nessa nova cara da Música, imaterial, pulverizada, milhares de artistas disputando espaço e atenção em condições parecidas e precárias, com acesso aos meios digitais e às mídias sociais?
A partir de algumas leituras passei a defender a tese que “reputação” poderia ser um ponto de partida. Programadores musicais levam em conta a reputação de artistas novos, o que se fala sobre eles é ponto importante de avaliação. Gastei meu latim elaborando o assunto, veja aqui, história antiga.
Como consequência da discussão, surge a idéia de olhar para as listas de “melhores do ano” como uma declaração por escrito, uma recomendação, um testemunho que, sim, pode construir reputações. Quem for indicado em mais de uma lista de melhores do ano tem algo a mais acrescentado à sua reputação, #listasdaslistas podem ser um indicador de reputação.
No final do ano de 2013 começamos a coletar listas publicadas e juntá-las numa planilha. Os resultados eram surpreendentes, alguns artistas conseguem aparecer em listas bem distintas. Depois de dezenas de listas compiladas publiquei o resultado e a #listadaslistas de 2013 deu uma interessante repercussão.
Consegui juntar mais gente disposta a ir buscar respostas e fizemos a compilação dos melhores de 2014, agora com mais de 50 listas e resultados sempre curiosos e surpreendentes. Estas listas anteriores estão disponíveis na aba “Todos os anos”. Por motivos de correria no CCSP não voltei ao assunto nos finais de ano de 2015 e 2016, mas se houver demanda talvez se levante as listas de 2015 e 2016, até para se verificar as possíveis consequências de se pontuar bem numa lista dessas, acompanhar a evolução das carreiras.
Em 2017 voltaram as conversas sobre os festivais, ficando claro sua importância na consolidação de uma cena nacional composta por varias cenas regionais circulando pelo país. A mudança de rumo do edital da Natura, abrindo espaço para apoiar uma dezena de festivais confirmava esta percepção. A SIM São Paulo, no início de dezembro de 2017 conseguiu juntar representantes de 60 festivais, as conversas pegaram fogo, me senti animado a voltar ao assunto. Aproveito para deixar público o agradecimento pelo prêmio que me deram, tipo pelo conjunto da obra, na hora fiquei tão passado que nem agradeci direito, nem fiz discurso. Muito obrigado, pronto.
Logo depois, cruzei o Elson, parceiro da lista de 2014 e começamos a trabalhar. Elson Barbosa, na vida real um cara de TI, toca o selo, site e comunidade Sinewave, nas horas de folga de seu emprego. Em seguida juntou-se a nós Juliano Polimeno, que toca a Playax com seu sócio Daniel Cukier, uma empresa de dados sobre Música. Elson trouxe a bordo Rafael López, do site Hits Perdidos, um colecionador de informações sobre bandas. Iriamos trocar idéias num grupo de zap madrugada afora, pensando em estratégias para coletar mais listas, em como coletar cada vez mais dados e ter precisão no levantamento. Subitamente já não eram só as listas de melhores do ano.
Fomos almoçar e nos conhecer pessoalmente e compartilharmos nossas diferentes visões sobre a #listadaslistas. Algumas coisas ficaram mais claras. Primeiro, que a #listadaslistas é um recorte bem definido e restrito, onde aparecem somente artistas que lançaram trabalhos considerados “discos”, basicamente um pacote de canções, a maioria em CDs, alguns em LPs e outros em formatos virtuais, imateriais e até EPs. Além disso, são trabalhos lançados durante 2017. Isso já define que o nosso universo é um pedaço bem pequeno da Música Popular Brasileira, os “discos de 2017”, porém o conjunto é importante, porque é o cenário dos artistas que estão em plena forma, produzindo, disputando a nossa atenção com o seu melhor e mais bem executado trabalho artístico, discos que são elaborados de forma completa e sofisticada, maduros e prontos para serem apreciados, a nata da Música Brasileira, podemos dizer.
Depois de algum debate fechamos o conceito de quais listas fariam parte da busca. São listas públicas e publicadas, em qualquer meio, escolhendo e apontando melhores discos de 2017. Isto é uma espécie de certame com regras comuns a todos, são listas da mesma coisa. Cada indicação em uma lista conta um voto para aquele disco, não interessa a colocação dentro da lista. Finalmente, só vamos anotar os discos nacionais, mesmo que dentro de uma lista junto com internacionais. Mas que critério as pessoas usam para escolher seus melhores do ano? Isto foi um bom bate boca, mas a conclusão é que o critério soy yo.
São escolhas subjetivas, questão de eleição de foro íntimo, gosto pessoal, chame do que for, mas fica em pé a constatação de que alguns artistas conseguem ser percebidos como melhores por mais gente que outros. Por algum alinhamento de sentimentos, talvez por terem artistas e votantes a mesma sensibilidade naquele momento, por motivo quântico ou de zeitgeist, tanto faz.
Outro ponto importante: quem faz listas de melhores discos do ano em pleno 2017? Como vivem? O que pensam estas pessoas? De que se alimentam? Em nossa conversa, concluímos que dá trabalho fazer uma lista dessas, não é um impulso fútil, por isso iremos buscar todas as listas que conseguíssemos durante o período em que são publicadas, entre o início de dezembro até 31 de de janeiro. Este é um fenômeno pontual, bem localizado.
Ao final, depois de buscas intensas conseguimos identificar 122 listas, que representam recomendações feitas por um número enorme de votantes. Uma boa parte são listas individuais, pessoas que tem este olhar catalogante, jornalistas, profissionais que cobrem a área, blogueiros e amadores que se dispõem a organizar suas preferências e anunciá-las.
Outra parte são coletivos, comunidades, ou comitês que se juntam no esforço de debater, compilar e promulgar uma lista dos seus destaques e preferências numa lista única. E ainda existe um número de listas que são consequência de apuração de votos de leitores, exercícios de democracia do gosto, algumas listas onde se votou numa pré lista organizada e em outros o voto é da livre escolha dos votantes.
Como curiosidade, mas com razoável grau de acerto com relação à nossa #LdL final, bem coerente, juntamos uma lista que é o resultado de uma busca no gugol por “melhores discos de 2017” e vem uma lista de 50 discos, com uma apresentação especial das capinhas dos álbuns de música, como ele chama. Todos esses sempre contando um voto para cada disco em cada lista.
Mas como evitar distorções que pudessem vir de panelinhas, das brodagens ou de manobras ilícitas? Chegamos à conclusão que votações de grupos de interesse vão se diluindo no conjunto das listas. Sempre é uma constante preocupação de curadores não ser apanhado em manipulações que criam falsos públicos, tão comuns em likes e números de seguidores. Isto ficou fácil de perceber, pois existem listas que votaram apenas em discos de seu estado ou em gêneros bem estreitos, nestas listas aparecem alguns que se destacaram por ser votados em outras listas e é por isto que estas listas contribuem no resultado final, sem deformá-lo. Além disso, uma boa votação pode até ser resultado de um bom trabalho de divulgação dirigido, isto é licito e mais ainda, saudável demonstração de profissionais trabalhando no ambiente da música autoral.
Então, temos um conjunto de obras da mesma espécie, sendo votado por outro conjunto de votantes razoavelmente heterogêneo, gerando uma espécie de estatística que está se dispondo a apontar os mais recomendados como melhores, no campo minado do gosto pessoal. Claro que isto é para ser tomado diluído em gotas e com bastante sal, não é rocket science, está mais para humanas. O que nos interessa mesmo é como a observação do fenômeno pode gerar entendimento, opiniões, e especialmente descobertas sobre o que acontece na Música Popular Brasileira neste momento.
Para facilitar a sua tarefa, vamos apresentar o Top51 da #listadaslistas de 2017. Estes são os 51 artistas, e seus discos, que tiveram mais de dez recomendações, os 51 melhor votados. Não é fácil ser incluído em dez listas, requer visibilidade bem alta. A lista prossegue por mais 506 nomes, todos com votação abaixo de dez listas. No total, 557 discos foram apontados como melhores do ano, isto é uma safra espetacular.
Alguns aspectos estatísticos deste Top51 surgem imediatamente. Um terço destes 51 mais recomendados está no seu Primeiro Disco, barbaridade! Muitos destes estão na estrada há anos, ou então é seu primeiro trabalho solo, mas este é o primeiro disco. Quer mais? Um quinto está no segundo trabalho.Somando os dois dá 53% deles com menos de dois discos. Pode se dizer que a cena está se renovando aceleradamente, é verdade.
Outra coisa pula das lista dos Top51: os grande vendedores, os comerciais, não são recomendados. Isto é um fato. Alguns artistas consagrados aparecem na lista modestamente e porque tem trabalhos que se destacam , recebem recomendações merecidas, se me perdoam. Dos lacradores, apenas Pabllo, para dizer que há alguma conexão com a parada de sucessos.
O Top51 reflete um Brasil das artes que conhecemos, com predomínio do eixo SP/Rio com 59%, o restante espalhado pelos estados. Tem espaço para muitos gêneros, mas é pop, percebe-se a presença vibrante de um novo rap, que trabalha com legados, com musicalidade e com profunda honestidade poética.
Os gêneros não são muito claros, muita coisa foi classificada como MPB de forma genérica, bastante hip hop, tem samba, tem rock, afros e vários pós tudo, a lista é bem contemporânea e reflete as ondas da sociedade, inclusive na proporção de dois homens para cada mulher, fruto da maioria absoluta de votantes homens.
Um terço dos discos foram lançados até o início de junho, outro terço entre junho, julho e agosto e o terço restante após setembro.
O que no inicio era apenas buscar listas e computar votos transformou-se por pura paixão em recolher todos os dados; Elson, Rafael e Juliano se esmeraram em ir buscar muitas informações que começam a formar um Mapa da Música. Rafael trouxe a produção completa de vídeos de cada artista, com os diretores. Quem são as pessoas que trabalham com estes artistas? Quem produz? Em que estúdio eles gravam? Qual o selo? De onde são? Dados que queremos abertos e mostrando uma cena musical profissional, competente, extremamente autonoma. Confira todas as abas.
A captura dos estúdios em que foram gravados os discos trouxe um destaque para o estúdio de RedBull em SP, uma instalação de ponta disponível para os artistas. Espero que haja uma DR com a Red Bull, porque isto é bom, mas traz queixas dos produtores, que veem estúdios particulares sendo fechados por isso.
Apesar de buscarmos com afinco, encontramos poucas informações sobre quem está cuidando da comunicação dos artistas, gostaríamos de poder preencher esta lacuna importante.
Temos startups surgindo no ecosistema da Música do Top51. A Playax, que ouve e mapeia tudo que acontece na difusão por rádio e web nos trouxe dados interessantes e precisos sobre execução em rádio e streaming, os números da internet, do período de 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2018.
A Bananas, da Juli, cuida de listas do Spotify e está montando uma playlist com três músicas de cada um deles do Top51, siga e divulgue.. Se quiser conferir os discos completos há uma aba para ouvir, com links. A Tratore nos ajudou a apontar as distribuições, mas também falta terminar.
O trabalho deve prosseguir, ampliar o alcance, queremos povoar as planilhas com dados e dividir com vocês. Precisamos voluntários, estagiários e estímulo.
Fim da parte um, agora vem a sua leitura e interpretação do samba, seus comentários, deixe lá seus contatos A partir desta conversa segue o baile. Os Festivais de 2017 e seu elenco estão sendo mapeados., se voce toca um Festival de Música, mande um email. A grande planilha estará disponível para interessados. Mande um email para listadaslistas@gmail.com
Melhor ir conferir o Top51 da #listadaslistas AQUI.
@penas fev18
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Belo trabalho, Pena
ResponderExcluir