Sarau de Futuro, ou Wikinique
FIB + B – estamos numa fase de intensa discussão sobre FIB: Felicidade Interna Bruta (e não PIB...). Um conceito super interessante, e que me suscitou uma pergunta: será que os nossos indicadores são os mesmos do Butão? Será que o fato de mistura, movimento, toque, celebração, exuberância serem tão marcantes neste Pá Tropí implica em outros indicadores?
Ou seja: proponho que a gente pense que coisas são de fato importantes na nossa vida e poderiam constituir nossos indicadores de felicidade.
Ooo Lála, só voce para provocar assim.
Travei aqui na hora que li.
O que de fato é importante ... no Brasil? Para um futuro feliz ...no Brasil.
Como eu não vou wikinicar ai, fico pensando:
O tempo de ócio, o bom humor, o gosto pela água, o respeito religioso das forças naturais, a mata, o mar, o trovão, a celebração na lua cheia, na noite.
Gregarizar, na rua, no elevador, (quando qualquer acidente nos desperta da paralisia), basta só ficar perto enquanto se conversa, cabemos todos dentro de uma oca, não é?
Essas coisas...
Somos indios!...?
Reza a lenda que vagueamos uns dez mil anos a pé, do miolo do mundo no meio da Eurasia até aqui neste final de mundo, a pé, enfrentando e fugindo do gelo glacial. Daqui não há mais onde seguir, só ficar, ali no sertão ou aqui no litoral, era acolhedor e temperado.
Depois que chegamos aqui já se passaram outros dez mil anos, tempo necessario para criar estas coisas realmente importantes no Brasil, esta maneira de conviver que pertence ao lugar.
Os sábios portugueses e negros entenderam que os filhotes nascidos dos cruzamentos com os nativos eram coisa boa, seres adaptaveis, seriam tão portugueses ou negros quanto fosse preciso, mas entre si se entendiam e conviviam sem se estranhar, vindos de negros ou portugueses. Trabalhando se necessario, mas precisando da rede, do banho, da risada, da cantoria, e assim foram se misturando e recebendo mouros, judeus, asiaticos, nobres filhos de castas puras há mil anos, tres mil anos, cinco mil anos. Benvindos. Seremos nobres, asiaticos, judeus e mouros, e nossos filhos serão indios, herdarão os dez mil anos imediatamente.
Que futuro melhor posso precisar?
Que venha a tecnologia e um tsunami economico e o imprevisivel mais afastado e longinquo, deixa vir. Um presidente do mundo negro, a falencia da moeda, um confronto final ou a união de todos os povos numa mesma bandeira. Tanto faz, que venham. Já perdemos todo o nosso dinheiro duma vez, juntos, na mesma hora. Já tivemos o horror politico e temos uma guerra civil. Pulamos de um presidente PHD para um sindicalista, de inflação para moeda segura, de Getúlio para Juscelino, e não perdemos o passo no Carnaval, a piada com todos eles, o banho diario.
Pensemos então, como será um futuro indio?
Podemos fazer as pazes com eles, os indios que não se misturaram, brigados ficamos ao impor as novidades desnecessarias, estes costumes provincianos, medievais, vindos de terras de inverno forte e escassez. Pudores, vicios, avareza e materialismo, por exemplo. Podiamos entende-los, os indios que sobraram, e dar a eles o respeito devido.
Podiamos ser felizes ao abolirmos o terno como necessario para a dignidade do homem. Não é. Podiamos criar uma cultura obssessiva, fanática em relação ao meio ambiente, pelas aguas, pelas matas, pelas aves, seriamos completos em nossa harmonia com a natureza. Devemos proteger o humor, o direito á troça, o riso das mazelas e da vaidade, sem limites. Rir é um direito sagrado, custe o que custar. Nosso futuro indio será melhor assim.
A justiça, o estado, a lei e a ordem são relativas. Quer algo mais brasileiro que isto? Sabemos no fundo de nosso DNA. Quem manda mesmo é a onça, a enchente, a borduna do inimigo, a falta de comida, essas coisas inexoraveis e quotidianas, naturais desde sempre, o verdadeiro governo, a verdadeira justiça que não existe, a demanda levada até o fim, como uma arvore que recebe o raio.
Assim, sabemos dar a estas cousas alheias a proporção que devem ter, pequenos cerimoniais que no fundo nos irritam pela sua ineficacia, a justiça, o dinheiro, o poder. Ninguem manda no por do sol, na nuvem que se desfaz ou no vento que para. E são eles que nos conduzem, de verdade, como irmãos nascidos da mesma terra. É o carinho que nos defende, são o canto e a dança que nos organizam.
Vivemos em paz e por isso progredimos. Somos pacificos e por isso temos o tempo do nosso lado, porque vencemos sobre a morte desnecessaria, aqui é o paraiso, terra da banana e do peixe, do amor á vida limpa e aberta. Reaprendemos sempre a dividir sem se desfazer, pois fizemos juntos. Não queremos a miseria, a falta de conforto, a vida dificil, para ninguem.
Portanto, um futuro indio será inexoravel. Pacificos mas com tutano nos ossos, prontos para a disputa quando chegar a hora da flecha com veneno, verdadeiro esporte, pela honra e não por despojos.Depois, jogaremos futebol, faremos festas entre familias sem sangue, mesmo que seja na cidade mais concreta e cruel.
A cada canal que nos oferece a tecnologia enchemos com o diálogo caudaloso e infindavel, como os papagaios e bugios na mata, roncando, falando e rindo sem parar, rindo muito. Entre nós, sendo nós mesmos, no orkut, no email, no celular, no que vier. Tudo isso passa, é acessório. Quanta coisa não vimos nesse tempo todo, e continuamos acordando prontos a inventar a nossa próxima caçada, a próxima comida, a próxima correria.
Medimos nossa felicidade brasileira assim:
Horas de ócio semanais praticadas, em vez de horas trabalhadas
Energia gerada, em joules em cada festa, balada, carnaval ou boi pelo movimento das pessoas, diretamente proporcional `a animação, à duração, ao tamanho da multidão, modelos numéricos a desenvolver.
Riso/ Discurso = numero que idealmente deve se aproximar de 1, que define a razão entre a seriedade do discurso e o riso, devem ter tempos iguais no tempo que dura o discurso total.
E finalmente
BpA, ou Banhos por Ano, talvez o índice mais preciso do FIB2
baccios
PS