Estou impressionado com a eficiencia das redes sociais para trabalhos de demolição, erosão e aniquilamento exatamente nos assuntos sociais, os exemplos são recentes e próximos. Neste instante são as biografias que atraem a sanha coletiva. Apenas para referencia dos futuros, há uma tentativa das editoras em eliminar a censura ou aprovação prévia dos biografados e seus herdeiros, como consta na lei. De um modo geral, se percebia alguma insatisfação publica com esta forma de impedir a circulação das idéias, parecia anti democratico proibir biografias e merecia repudio, era interferencia indevida, coisa de pais atrasado. Subitamente se manifesta um grupo de artistas importantes da música, o Procure Saber, que com este nome mote levantou a discussão sobre o ECAD e sua falta de transparencia e conseguiram, depois de uma caitituagem explicita na Camara e no Senado, acelerar a aprovação de uma lei que cria a fiscalização do ECAD, entre outras coisas. Roberto Carlos, o Rei, assumia pela primeira vez sua veia ativista e deu o aval final para que Caetano, Gil, Djavan, Chico entre outros, consolidassem um grupo forte e representativo com força de lobby, a mesma força que um dia foi da industria, agora agindo a favor dos artistas, pelo menos deles. A alta direção do Procure Saber ganhou o apelido de 8 Orixas, mas a presidencia foi para a ex de Caetano, Paula Lavigne, empresaria, pragmatica, realista e que partiu para a ação. O próximo movimento do grupo foi levantar oposição à demanda das editoras em mudar a lei, permitindo biografias não autorizadas. O grupo publicou uma nota se manifestando a favor da permanencia da lei como está, mantendo o privilégio dos biografados de proibirem, ou autorizarem, inclusive mediante pagamento, como se fosse uma espécie de direito de imagem. Imediatamente a insatisfação contra esta espécie de censura levantou-se e rugiu. Jornalistas e a imprensa, outros biografaveis, a malta dos comentarios , o assunto se espalhou, em principio contra os artistas proibicionistas. Surgiram argumentos defendendo uma análise melhor. Há um conflito entre a liberdade de expressão, o direito à informação e o direito à intimidade preservada, conflito engasgado na lei e o Supremo esta tentando mediar este ponto. Sutilezas constitucionais à parte, o bate boca se espalha nas redes sociais e o fenomeno se manifesta. Assim como a chuva cai e a grama cresce falar mal é da natureza humana.
Os novos arquétipos em ascensão dão as caras. No more guitar heroes. O negócio agora é pesar no sarcasmo, pisar no defeito, esverdear a ironia. Um universo em desencanto se acaba em dedos apontados, acusando, indo ao amago, dando nomes e sobrenomes, dia e hora. Sim, porque agora temos como levantar a capivara de qualquer um, em algum lugar da rede alguem vai buscar a declaração feita em 1992, contradizendo sua opinião de hoje. Suas letras de musicas desmentem suas idéias, ou afirmam a nossa postura de lutar pela liberdade, ou ainda jamais pensei que voce , meu idolo, fosse capaz de tanta mesquinharia. Deu para entender? Há uma disputa pela atenção no meio da confusão, cada um quer ser melhor algoz, acertar a pedra na cabeça, no olho, onde sai mais sangue. Subitamente o debate é considerado relativismo, coisa de fracos. Nâo é disso que a turba precisa. Queremos Chico Buarque na lama junto conosco, é pessoal e valem todas as fofocas, boatos e maledicencias.
Pessoalmente prefiro as biografias livres e soltas e multa e cadeia para a canalha que escrever mentiras, assim decidirá um juiz. Até acho que o Supremo pode dar uma ajuda em fazer a coisa clara, pode explicar aos herdeiros o alcance limitado do seu poder sobre as coisas que já entraram para a Cultura, o lugar comum. Tomara.
O fenomeno é a avalanche de opiniões. De uma em uma, a são gotas de chuva que se desmancham no ar. Mas quando as redes sociais acumulam as opiniões se produz essa vossoroca que desbasta a reputação de um Chico Buarque para passa-lo a limpo. Os exemplos recentes se sucedem aqui perto. Emicida faz uma letra de um pós samba falando de sua dor de corno. Ela não passa de uma dadeira. As meninas compreendem, tem uma leitura normal do olhar masculino, sim, é coisa de genero. Mas as feministas resolveram que precisamos acabar com essa discriminação e chega de olhar masculino sobre tudo isso que ai está. Não consigo acreditar que indo contra um poeta vai se resolver as coisas que os machos sem rima aprontam. Em questão de horas a rede estava cheia de palavras de ordem, e se sucederam as repetições, os likes e começam os comentarios sobre a vida sexual do Emicida e subitamente a galera que devia estar apontando o dedo para dizer que ele é o nosso menestrel, ele fala das nossa vida, essa mesma galera ia empurrando o rapaz pro precipicio das reputações. Emicida usou o verso para provar que era dominado pelas mulheres em todas as suas músicas, só devoção e fervor. Rimou sua defesa e o contrataque surtiu. Todo mundo replicou a defesa e sossegou a multidão. Às vezes funciona, mas requer um poeta em sua máxima potencia.
Tenho amigos que consideram um avanço essa possibilidade moderna da multidão manifestar-se como tumulto e criar um fato virtual, um meme que se propagará até o fim dos tempos por sua força própria. Chico é canalha é um meme. Leonardo da Vinci também foi um canalha à sua moda. Mas o meme que resta é a obra. Acho que as redes sociais não estão conseguindo dar esta volta, em transformar-se em aparelhos da civilização.
Fico pensando qual seria a ajuda para que se construam açudes, represas, canais que consigam criar beneficios dessa enxurrada com tanta vontade humana de participar. Tem dias que acho que é preciso um botão “Não Curto” para atenuar o impeto das malvadezas e irresponsabilidades. Um tanto de auto moderação, uma retroalimentação que estabiliza um sistema prestes a surtar, instavel. Sério. Tenho certeza que um debate como este das biografias teria melhores resultados se o argumentos tivessem menos ruido, menos cacofonia, menos tumulto. Não acho que está nas pessoas a solução e nem que esta forma libertaria de expressão deva ser emudecida. Mas de alguma maneira a polidez na convivencia precisa ser a forma, como já é parte de nossa sociedade que, em sua enorme maioria se comporta exemplarmente no metro, na praia e na rua. Falamos obrigado, faz favor e com licença sem pedantismo, sem afetação, são sinais de convivencia resolvida. Neste caso das redes sociais, é um problema de engenharia e de negócios. Se, por um lado a polemica, a gritaria, o excesso é bom para os negócios já que que causa e atrai olhares e audiencia, por outro lado o trafego das opiniões é 100% controlavel. Muitos sites criam mecanismos de moderação automática, o youtube é um exemplo. Se queremos uma rede social melhor, temos de usa-la para sua própria correção. Queremos um botão de “Não Curto”? Gritemos por ele, ou vamos para o tuite e seus belissimos mecanismos naturais de participação, a reverberação e flutuabilidade dos assuntos de interesse. O que não dá é achar que linchar, apedrejar e cuspir são liberdades obtidas com a internet. E também que passou a ser sincero e de bom tom vir a público contar seus problemas pessoais, geralmente seus fracassos, que normalmente seriam discutidos com seus e suas melhores amigas, em lugar reservado e em voz baixa e que agora atraem multidões de likes, especialmente se o seu fracasso pessoal é vinculado a alguem cujo nome todos conhecem. Quem vem a público reclamar de uma dívida de negócios? Quem sai por ai dezendo que está sofrendo pressão no trabalho? Ou reclamando do ex colega, ex parceiro? Não é assim que rola aqui fora. Pois foi isso que aconteceu com o Fora do Eixo. Uma avalanche indiscriminada de retransmissões de reclamações que normalmente as pessoas já não fariam. Foi irracional. De tanto furor não saiu um advogado com uma manifestação juridica, nem uma queixa trabalhista, nem uma denunciazinha ao MP, nada, só furor. Havia fundamento nas queixas, nada que não fosse e será resolvido com um pouco de humildade e melhores maneiras, mas nada que justificasse a execração com nome e sobrenome de Pablo Capilé. Talvez por ele ter declarado na TV pública que o PSDB não dialoga com os movimentos sociais tenha sido o pisão no calo das paixões politicas, que deram a ordem de “fogo nele”. Mas o que se viu foi um atestado de que as redes sociais tem uma personalidade infantil, influenciavel, manipulavel e isto pode gerar consequencias concretas indesejaveis. Como uma criança, a rede precisa aprender a ter educação, a se comportar, para desenvolver uma personalidade mais “social”.
Durante a pichação do Fora do Eixo - aquele castigo medieval de cobrir com pixe e penas e fazer desfilar para a turba jogar caroço de manga chupada, humilhação pública - vi pessoas das melhores instituições presentes nos fluxos de discussão, mas não vi, não me lembro e queria que voces me corrigissem se alguem apontou para essa distorção no convivio social. Está valendo, passou a valer? Não foi apenas um surto. Está se transformando num habito social? Que merda, façamos algo.
Isto é uma ressalva: não sou do Fora do Eixo. Tenho relações com eles, até por ser um ativista da Música, me convidam e vou lá conversar, pelo Brasil. Neles vejo um grande esforço de organizar e procurar caminhos coletivos na música dos jovens. Com todos erros e a inépcia de quem faz as coisas para aprender, mas fazem e persistem. Só um satélite consegue enxergar a dimensão e a lonjura deste pais, mas o FDE está presente no território e praticamente é a unica forma de resistencia ao mercantilismo musical, aquele dos donos do negócio. A penultima utopia e não merecia esta afronta, especialmente desse povo barrigudo e careca que um dia acreditou em woodstock. Carapuças, enfiar!
Pois é isso. A lei das biografias pode ter um desfecho melhor, mais cuidadoso porem livre, torço por isso. Nossos idolos musicais enfiaram o rabo entre as pernas e saem de cena esculhambados. Façam disso suas canções da juventude perdida. Vai sobrar para nosotros el resto a tarefa de reconstruir a Lei Rouanet aprovando o ProCultura, a Lei do Direito Autoral, ir arrecadar direitos autorais na internet, conseguir dar um jeito na legislação trabalhista dos músicos e artistas, continuar a tentar criar uma classe, uma união, um movimento. Teria sido lindo, mas o Procure Saber, só se voltarem dispostos a trabalhar pelos outros colegas. Faz parte, é do futebol. Toca reto.
30 outubro 2013
15 maio 2013
Reputação.
Fiquei um tempo pensando em como avaliar artistas, músicos, bandas neste ambiente diferente daquele da industria fonografica.
Por inercia, ainda se presta atenção em “discos vendidos”, isso já era. Toda a produção musical passava por um ponto, a gravadora, que criava parametros para avaliação e julgamento fundamentais na difusão das obras. O numero de discos vendidos era um parametro concreto, sujeito a alguma manipulação mas tinha credibilidade. Os numeros de vendas refletiam um vago interesse do público. Artistas que vendiam bem nos USA ou na Europa eram lançados aqui. De alguma forma difusa, as vendas implicavam em influencia nos padrões estéticos vigentes, alem de influenciarem os caminhos da divulgação. A produção artistica circulava como um objeto de plastico absolutamente controlado, na fábrica, no estoque, nas faturas e também nas Notas Fiscais frias, quando o caminhão entregava o dobro do numero de discos estipulado nos documentos fiscais.
Mudamos para outro sistema, com muitas interfaces. Os penultimos CDs circulam, e criam numeros de vendas que agora são relativos. O grosso da circulação da música é gratuita, informal, compartilhada, emprestada, copiada. Uma pequena parte da circulação digital passa por lojas, tem algum controle. A plataforma da música hoje é muitas vezes maior que a industria fonografica, que mantem seu movimento e faz suas festas como o Grammy.
Praticamente todos os artistas novos ou fora do mercado comercial não ostentam mais um “numero de vendas” que reflita sua aceitação pelo público. Aparecem alguns indices como o numero de vistas no YouTube, ajudam a ter uma idéia da repercussão do artista, mas precisam ser colocados em perspectiva. Um instante de fama ou glória às vezes cria monstros com milhões de vistas, mas era só um gatinho no video.
Outros parametros vão sendo incorporados a esta avaliação da relação entre artista e público, como o numero de seguidores no tuiter, o numero de likes no face, a velocidade de espalhamento dos seus comentarios e por ai vai.
Cada vez mais esta avaliação se distancia da relação entre o artista e sua performance industrial e se aproxima de uma relação entre sua persona virtual com seus fãs, pelas recomendações, pelo boca a boca, por hypes construidos e por explosões imprevisiveis em esferas da vida social, longe da midia, da industria ou de qualquer território controlado.
A industria continua a manipular uma e outra manobra, como o vazamento antecipado, carta velha no baralho desde Roberto Carlos, que ainda funciona com um ou outro medalhão como Bowie ou Daft Punk, cria movimentos pontuais mas não funciona com artistas medianos ou novos.
Os bilhetes vendidos nos shows ao vivo também fazem parte desta cesta de indices, mas não temos aqui no Brasil uma organização de mercado com bilheterias publicadas. Os donos de casa noturnas e teatros não divulgam numeros. Mas a informação de shows lotados se agrega à definição de sucesso e nem sempre casas vazias querem dizer fracasso artistico.
Enfim, acredito que numeros de vendas, tanto de CDs quanto de downloads refletem um estimulo marketeiro para vender um pouco mais do que já está vendendo no comercio de música gravada, e isso não tem nada a ver com o que acontece no mundo da música que ouvimos.
Reputação, então, começou a se desenhar como uma forma de descrever este indice composto de muitos vetores que definem uma carreira musical que pode estar em diferentes estagios, passando do anonimato para o reconhecimento e para a influencia e aceitação. Mas reputação é uma palavra que muda de significado em cada frase, tem muitos usos e eu não conseguia segurar com firmeza para poder aplicar na música, nos negócios da música, na vida artistica.
Estava com esta palavra entalada, nem ia para o éter nem descia para o papel. Resolvi procurar o que ela queria dizer por ai e no google até a ultima página, um velho habito de não confiar num unico dicionario. Apareceram muitas definições, todas uteis e diversas e nem por isso definitivas.
A referencia que me chamou a atenção primeiro foi a que parece que criou raizes mais fundas na internet, virou um meme sobre reputação. Da ficção cientifica de Cory Doctorow, "Down and Out in the Magic Kingdom" - tem uma tradução disponivel gratis aqui - surge uma noção que encantou os nerds: the whuffie is a reputation currency, onde o whuffie é um trocadilho com ‘whuf’, um latido grave - o latido é uma moeda de reputação, baseada na opinião dos outros expressada nas redes sociais. Se voce é querido, respeitado e faz suas entregas em dia, os latidos se acumulam em sua conta. Com uma conta cheia de latidos voce paga seu aluguel e transporte, roupa, ferramentas e comida. Se voce urina do lado de fora do ourinol perde seus latidos instantaneamente. Ande na linha e voce consegue o que precisa. Consiga emplacar seu carisma e será o rei da reputação. Como sabemos das midias sociais de hoje, todos votam o tempo todo e por isso os latidos tem volatilidade absurda. Não é muito bom nem como moeda nem como tesouro, de tão volatil. Quem segue o que acontece hoje em dia com os bitcoins, a primeira moeda virtual a entrar no mercado, percebe que este pode ser o comportamento da economia do virtual, a volatilidade permanente.
Dentro da história de Doctorow os latidos vão e vem, ilustrando o poder das redes sociais, o efeito da manada e a criação sistematica de memes para sobreviver no ambiente memético como diz Alex Antunes.
Anotei e segui em frente. Na novela a administração da moeda de reputação depende de tecnologia ainda não implementada, terminais embutidos na visão, imersão profunda na rede. Me encantou alguem desenhar tão bem o que seria a reputação como moeda, e algumas consequencias disto.
“Brodagem não paga contas”, Dago Donato. Tem cara de ter sido um tuite, expressando um mote de sabedoria da vidaloka. Brodagem é um termo que pode ter sido criado pelo Miranda, tanto que ele usa desde sempre. Coisa entre irmãos, uma brodagem. Geralmente significava que uma transação que tinha valor de mercado era operada sem moeda sonante. Entre irmãos. Eu toco no seu disco e voce mixa o meu. Ou ainda, na versão mais fluida, voce fala bem de mim que eu digo que voce é legal. Reputação no paralelo, criando valor sem passar pelo caixa. Ao mesmo tempo que explicita que pode ser uma operação sem valor real monetario, também fica explicito para os broders que foi só uma brodagem, ou seja, não constroi reputação nem paga contas.
Um Instituto só para dizer para as empresas que elas precisam ter reputação e que esta reputação é administravel. Sua reputação é construida pelas idéias que voce defende, mais do que pela sua mercadoria que vende. Defenda boas idéias - economize agua, proteja as tartarugas, esqueite é saudavel - e voce vai ver a reputação de sua companhia crescer acrescentar valor e defesas à sua marca. Mas são uns caras de pau! Como se não estivessemos no quarto enquanto eles combinam que vão parecer bonzinhos. Sim, dizem eles, reputação é formada por confiança, estima, admiração e respeito. Só não dizem que existem falsas reputações que são criadas com promessas vazias.
Na Wikipedia - A reputação também é conhecida como um mecanismo de controle social ubíquo, espontâneo e altamente eficiente em sociedades naturais. É objeto de estudo em ciências sociais,administração e tecnologia. Sua influência vai de ambientes competitivos, tais como mercados, aos corporativos, tais como empresas, organizações, instituições e comunidades. Ademais a reputação atua em diferentes níveis de agência, individual e supra-individual. Ao nível supra-individual, diz respeito a grupos, comunidades, coletivos e entidades sociais abstratas (tais como empresas, corporações, países, culturas e mesmo civilizações). Ela afeta fenômenos em diferentes escalas, da vida cotidiana às relações entre nações. A reputação é um instrumento fundamental da ordem social, baseada em controle social espontâneo e distribuído.
Gostei desta linha. Primeiro, reputação como mecanismo de controle social, expontaneo e distribuido. Segundo que afeta a todos, de individuos a nações. Consigo desta forma imaginar a reputação como algo que permeia toda a música, as obras, os músicos, as interpretações, os generos, as diferentes habilidades para fazer música, todo o campo e sistema da música é sujeito à ação da reputação, das diferentes dimensões da reputação. Podem chamar de hype ou carisma, tanto faz, são expressões da reputação.
Pondé, FSP, 3-9-12, …” Valores são sempre materiais, ligados ao poder, patrimonio, sucesso, reconhecimento. … a moral pública sempre foi fundada na hipocrisia e na superficialidade de julgamento do comportamento alheio.”
Não acredito que o conceito de reputação como referencia nas trocas de valor simbolico seja compreendido neste sistema de pensamento.
Do livro Economia criativa : um conjunto de visões - André Stangl - McLuhan e o Link da Alegria Criativa - No mundo simultâneo das redes digitais, a atenção organiza o tempo. Se antes acreditávamos que “tempo é dinheiro”, hoje podemos dizer que atenção é dinheiro. Sem atenção não existimos na rede. Entrar em uma rede é buscar atenção e dar atenção, essa é a nossa nova moeda. McLuhan dizia que quando uma coisa é atual, ela cria uma moeda.
Buscar atenção e dar atenção define muito bem o objetivo de um artista que queira ter vida na rede. A atenção dos muitos fãs se acumula na direção do artista, cria um valor. Há uma troca necessaria e construtiva, acontecendo agora e esta moeda criada, fruto da visibilidade na rede pode ser representada pela reputação aumentando.
Do mesmo livro Economia criativa : um conjunto de visões - Marcelo Rosenbaum e Rosely Galhardo - O design e a EC. - Para entender melhor a Economia Criativa, o consultor Ken Robinson, especialista em criatividade, explica que há três palavras-chave:
• A primeira é a imaginação, principal fonte de criatividade.
• A segunda é a criatividade que consiste em colocar a imaginação para trabalhar. Criatividade é também o processo de geração de ideias originais que tenham valor – pode ser na música, nas artes ou na gestão da empresa.
• A terceira palavra-chave é a inovação, que significa colocar as ideias iluminadas em prática.
Este processo de extrair valor da pura imaginação colocada em prática descreve o que é a essencia do trabalho do artista, o parametro pelo qual será julgado, mesmo que não seja tão claro. O artista se afasta da categoria de bom operario da música, afinado, pontual, responsavel e se transforma num criador quando traz este ingrediente para seu trabalho diario. E do nada surgem canções, estilos, hits. Este é o cara que acumula pontos em sua reputação, o criativo.
Idem, Luciana Annunziata - Toda EC pode ser criativa - o sonho de muitos
jovens é encontrar trabalho nesse setor porque há uma grande possibilidade de expressão criativa e reconhecimento. Esse modelo de trabalho influencia milhares de jovens que buscam construir sua reputação nas redes sociais, produzindo e compartilhando os resultados de seu trabalho e dos métodos utilizados. Free riders , aqueles que somente se beneficiam da produção das redes sem contribuir,
nunca atingem tal reputação.
Não basta ser criativo, é necessario compartilhar, transferir sua produção para o comum, o coletivo. Isto é o que traz pontos para sua reputação, fazer pública sua criação, transforma-la em inovação, quando suas idéias iluminadas mudam o mundo real. Antigamente tinhamos intermediarios agindo neste ponto do processo, basicamente carreando sua criatividade até o mercado de discos. Hoje é necessario construir uma reputação compartilhando o resultado do seu trabalho. Se houver reputação há uma primeira promessa de recursos materiais chegando ali na frente, quando sua reputação for suficiente para transporta-lo até o reconhecimento público. Por enquanto não há dinheiro envolvido necessariamente e isto é normal.
Idem, Lala Diezehlin -Quatro Infinitos, Óculos 4D e uma Mãozinha para Ter Futuros Sustentáveis - … ainda não reconhecemos que “valor” é muito
mais do que o financeiro. Reputação (uma das poucas coisas que não é possível copiar), por exemplo, é um valor que tende a ser dos mais importantes...
...Normalmente, achamos que patrimônio se refere apenas ao financeiro, como investimento, financiamento, mercados, permutas, banco de horas, moedas complementares. Mas também existe o patrimônio na dimensão sociopolítica: o tecido social, as redes, a representação política, articulação, lideranças, ação coordenada, reputação. …
Perceba que a sua reputação, sua moeda não financeira começa a ser respeitada como patrimonio, mesmo que seja na area sóciopolitica. Uma reputação bem construida tem tanto valor quanto uma votação expressiva, tem valor representativo. De alguma forma, a aceitação e escolha do seu público pela sua arte tem valor reconhecido em outras esferas. Isto atrai mais atenção para o seu trabalho e portanto significa mais reputação, mais oportunidades de poder buscar recursos financeiros. Talvez não seja a hora de vender discos ou downloads, mas encontrar parceiros atraidos por sua reputação e cujo trabalho seja conseguir meios para criar resultados. Pode ser um produtor, uma pequena gravadora, um amigo empresario ou um publicitario que encomende um trabalho. Começa ai a ação coordenada, que pontencializa os resultados.
Idem, Gil Giardelli - A ruptura coletiva e a EC - Quando a escola vai ensinar de maneira convicta que o maior risco dos tempos atuais é justamente não correr riscos; que a moeda do século XXI é a reputação, e que falhar faz parte do jogo?
Espero que voce esteja investindo em sua reputação desde já. A concorrencia faz parte da vida e as minhocas são do passarinho que acorda mais cedo. Que horrivel!
Reputação é a mesma coisa que fama?
Brennan Heart & Wildstylez fizeram um video com “Reputation Game”:
Power, money, fortune, lose it
Fuck the fame, feel the music
Power, money, fortune, fame
Fuck the reputation game
Em ingles o jogo da reputação rima com fama. A opção recomendada é sentir a música e transcender poder, dinheiro e fortuna. Dane-se a fama, dane-se a reputação. Não deixa de fazer sentido, manter-se fiel ao coração, ao lado criativo e não se deixar levar pela busca obssessiva pela reputação e o seu excesso: a fama. Não fazer disto um jogo é um bom conselho, ainda mais dito tão enfaticamente: sinta a música, é de onde vem tudo.
Em algum lugar da velha internet dos sites, eu havia feito uma procura de significados da palavra talento, outro mistério cheio de interpretações e que atormenta quem lida com música. Ficou na memória uma definição a partir da origem da palavra. Talento é o que se conta, o que contamos dos outros, o que nos chama a atenção. O meu talento é uma feijoada muito comentada no Youtube. O que voce faz que é assunto, que é notado pelos outros. A palavra vem dos gregos e significava uma medida, uma conta, um peso. Virou uma moeda, que representava uma fortuna, algo como 30 Kg de ouro, uns dois milhões de reais. Por isso passou a representar algo valioso, porem imaterial, uma habilidade nata ou adquirida que permite que voce chame atenção, seja notado. Claro que faz parte do conceito de reputação. Na música, não basta ser criativo, inovador e buscar uma reputação. É necessario ter talento. Só o talento garante o orgasmo perfeito, com fama, fortuna e uma carreira pela frente, porque voce tem algo que não se desmanchará na volatilidade das redes sociais, sua reputação resistirá.
Mais recentemente, Malcolm Gladwell, autor de livros pop resolveu pesquisar sobre essa coisa de talento e fez uma revelação: existem dois tipos básicos de talento. O talento de quem nasce com o dom e sai tocando como um virtuose sem fazer força. O outro tipo de talento é adquirido após dez mil horas de pratica, ou seja uns bons anos dedicados às escalas infinitas. Neste momento não conseguimos mais discernir qual é um e qual é outro, ambos tem o mesmo talento. Claro que são necessarias condições bem especificas para ser verdade. Repetição simples não vale, tem de haver fluxo, foco, concentração e progresso. Ou seja, obter o orgasmo perfeito, com fama, fortuna, criatividade e inovação sem perder a reputação está ao alcance dos que no minimo se dedicam ao seu talento com disciplina e entusiasmo durante alguns bons anos.
“Lose money for the firm, and I will be understanding. Lose a shred of reputation for the firm, and I will be ruthless." Warren Buffet, em algum tuite perdido.
Warren Buffet é o bilionario com talento para cuidar do dinheiro dos outros bilionarios. Diz ele: Perca dinheiro da firma e eu entendo. Perca uma lasca da reputação da firma e serei implacavel.
Mesmo falando de outro universo, continua a fazer sentido quando se pensa em reputação como sendo um grande valor para os artistas tambem. Errar é permitido, perder a reputação nem uma lasca. A reputação é o maior valor que os outros nos confiam para guardar. Tem a ver com confiança, admiração, respeito e estima e estas são coisas que como disse Milton, se guardam no peito.
Randall Farmer - Building web Rep - http://www.youtube.com/watch?v=Yn7e0J9m6rE
Reputação é a respeito de quem é bom e quem é mau.
Reputação é informação usada para fazer um julgamento de valor a a respeito de pessoas ou coisas. É um tecido feito por “eu confio, quem eu confio, porque eu confio neles”.
Reputação é sempre dentro de um contexto, quanto mais estreito mais bem definido.
Usamos reputação em todas as conversas, emitimos julgamentos o tempo todo, repassados ou criados.
Randall Farmer é um especialista em Reputação no mundo digital. É o criador de varios sistemas de medida de reputação, também chamados de karma, que medem o envolvimento e dedicação dos usuarios.
Sua visão bem pragmatica contem definições precisas. Usamos reputação para avaliar quem é bom e quem é mau. Artistas lembrem-se disto. Reputação define estas palavras da entrega mágica: eu confio, em quem eu confio, porque eu confio neles. A entrega final de nossa confiança depende da reputação, simples isso.
Regra 6 do Regulamento do Golfe em Portugal: Um jogador amador não pode usar de seu talento ou reputação para auferir beneficios.
Parece óbvio, mas é um procedimento ético definir amadores como os que não auferem beneficios, mesmo que desempenhem as mesmas atividades que os profissionais. Isto seria um conceito util para o mundo da música, onde não há esta linha clara separando uns dos outros. Desta forma, os profissionais não podem se queixar de concorrencia desleal por parte dos amadores. Mesmo que os amadores estejam construindo sua reputação com seu talento e um dia se transformem nos novos profissionais.
Neste inicio de 2014, estou fazendo um apanhado de todas as listas que consegui de melhores discos e melhores artistas do ano de 2013. Cada vez que alguem é mencionado em uma lista isto significa que é uma recomendação, um acréscimo na reputação do artista. Em principio, não considerei a colocação do artista dentro da lista, bastava ser mencionado e já contava um ponto. A classificação dentro de uma lista tem muito a ver com o ambiente. Listas de rock pontuam bem o genero, mas se um rapper é incluido ali, mesmo em ultimo lugar, este é o sinal, a recomendação, o ponto. Em breve publico o resultado, uma horrivel e árida planilha, mas com varias constatações de como funciona a reputação como moeda de referencia para os músicos.
Neste inicio de 2014, estou fazendo um apanhado de todas as listas que consegui de melhores discos e melhores artistas do ano de 2013. Cada vez que alguem é mencionado em uma lista isto significa que é uma recomendação, um acréscimo na reputação do artista. Em principio, não considerei a colocação do artista dentro da lista, bastava ser mencionado e já contava um ponto. A classificação dentro de uma lista tem muito a ver com o ambiente. Listas de rock pontuam bem o genero, mas se um rapper é incluido ali, mesmo em ultimo lugar, este é o sinal, a recomendação, o ponto. Em breve publico o resultado, uma horrivel e árida planilha, mas com varias constatações de como funciona a reputação como moeda de referencia para os músicos.
xxx
ps maio 2013/ janeiro 2014
25 fevereiro 2013
Os Robocarros 2
(Originalmente publicada em março de 2013)
Vou colecionar noticias sobre o surgimento do carro sem motorista e outras tecnologias que podem causar o derretimento do congestionamento paulistano. Isto é uma picuinha minha, pessoal, paroquiana. Eu não sei dirigir, vivo sempre muito bem e nunca perdi uma peripécia por não ter um carro nem saber dirigir. Até acho que isso me leva mais longe mais fácil.
No post anterior fiz uma fábula desejando que fosse uma mudança rápida para os carros sem motorista. Talvez não seja tão rápida. Mas a ruptura está sendo preparada em muitas frentes diferentes. Digo mais, preste atenção, será um momento histórico e voce faz parte da mudança, vá procurar pelos sinais.
Hoje, 25 de fevereiro, sai uma nota sobre os primeiros autos (sem motorista) circulando na Inglaterra, por conta de pesquisas. Já descobriram que o GPS não é confiavel, por causa dos canyons urbanos, a sombra dos prédios. Estão optando por um mapa na memória e um scanner a laser, que identifica com precisão o local no mapa e tambem os obstáculos.
Em um blog de aficcionados por corridas de carros de fábrica leio uma lamentação que os carros de F1 já são praticamente amparados por tecnologia sem motorista. A posição do carro de F1 na pista é conhecida e precisa em centimetros, usando um GPS de ponta. Um computador traça a trajetória ótima para as curvas, que não é tão intuitiva quanto parece. Dicas são passadas para o piloto que incluem correções do angulo de entrada, os pontos de freada e mudança de marcha, para que o piloto atinja o limite. Na verdade, todas as outras computações, combustivel, vento, distancia dos adversarios, tudo já está sendo calculado em tempo real e o piloto não para de ouvir uma torrente de dicas, que ele deve seguir. O blog se lamentava do futura falta de emoção e perigo que tomará conta das corridas de automóvel, e já com expectativas de assistir as primeiras corridas de carros sem motoristas, cujo vencedor terá champagne derramada no teclado do seu laptop. Aleluia irmãos.
Em outro site, tabelas e históricos sobre "direção em comboio", dizendo que se pesquisa isto desde os anos 70, durante a primeira crise do petróleo e existem muitos dados acumulados. Dirigir em comboio, aproveitando o "vacuo" do carro da frente, é conhecimento de todos e pratica comum nas corridas. A diminuição da resistencia do ar gasta menos combustivel. O que não se sabia é que quantos mais carros estiverem no comboio, mais aumenta a economia de combustivel, desde que se mantenham a uma distancia de dois metros. A partir de seis carros, o total da economia de combustivel chega até incriveis 30%. Claro que isto não se consegue reproduzir no transito, o risco de colisão é alto. Mas o assunto aparece porque dirigir em comboio será a pratica dos carros sem motoristas, com distancias e velocidades mantidas com precisão, porque os carros se comunicarão, estarão em rede quando próximos. Esta tecnologia de conexão dos carros entre si parece viavel
Em outro tom, em Boston, a policia fechou uma empresa que pilotava um aplicativo de celular que organizava caronas. O sindicato dos taxis alegou serviço ilegal e conseguiu uma sentença de um juiz. Ei taxis de São Paulo, voces estão na reta! Caronas eliminam carros das ruas.
Busquei tuites com a palavra "driverless" e apareceu um artigo bem arrumado sobre as "Cinco Razões Porque O Carro Sem Motorista É Inevitavel". Basicamente são estas mesmas razões nas quais eu acredito.
Para os que querem uma analise de profundidade no assunto, a Forbes está publicando uma série de artigos que analisam com rigor todos os angulos, "Amarrem Seus Cintos". Qual a estratégia real da Google - distribuir gratis o android dos carros? Como a industria automotiva reage a isto, uma vez que eles são pés-de-chumbo e adoram dirigir? Resistirão racionalizando ou se transformam?
#Cardisrupt - atualizando
As tecnologias que irão derreter o congestionamento de São Paulo
Vou colecionar noticias sobre o surgimento do carro sem motorista e outras tecnologias que podem causar o derretimento do congestionamento paulistano. Isto é uma picuinha minha, pessoal, paroquiana. Eu não sei dirigir, vivo sempre muito bem e nunca perdi uma peripécia por não ter um carro nem saber dirigir. Até acho que isso me leva mais longe mais fácil.
No post anterior fiz uma fábula desejando que fosse uma mudança rápida para os carros sem motorista. Talvez não seja tão rápida. Mas a ruptura está sendo preparada em muitas frentes diferentes. Digo mais, preste atenção, será um momento histórico e voce faz parte da mudança, vá procurar pelos sinais.
Hoje, 25 de fevereiro, sai uma nota sobre os primeiros autos (sem motorista) circulando na Inglaterra, por conta de pesquisas. Já descobriram que o GPS não é confiavel, por causa dos canyons urbanos, a sombra dos prédios. Estão optando por um mapa na memória e um scanner a laser, que identifica com precisão o local no mapa e tambem os obstáculos.
Em um blog de aficcionados por corridas de carros de fábrica leio uma lamentação que os carros de F1 já são praticamente amparados por tecnologia sem motorista. A posição do carro de F1 na pista é conhecida e precisa em centimetros, usando um GPS de ponta. Um computador traça a trajetória ótima para as curvas, que não é tão intuitiva quanto parece. Dicas são passadas para o piloto que incluem correções do angulo de entrada, os pontos de freada e mudança de marcha, para que o piloto atinja o limite. Na verdade, todas as outras computações, combustivel, vento, distancia dos adversarios, tudo já está sendo calculado em tempo real e o piloto não para de ouvir uma torrente de dicas, que ele deve seguir. O blog se lamentava do futura falta de emoção e perigo que tomará conta das corridas de automóvel, e já com expectativas de assistir as primeiras corridas de carros sem motoristas, cujo vencedor terá champagne derramada no teclado do seu laptop. Aleluia irmãos.
Em outro site, tabelas e históricos sobre "direção em comboio", dizendo que se pesquisa isto desde os anos 70, durante a primeira crise do petróleo e existem muitos dados acumulados. Dirigir em comboio, aproveitando o "vacuo" do carro da frente, é conhecimento de todos e pratica comum nas corridas. A diminuição da resistencia do ar gasta menos combustivel. O que não se sabia é que quantos mais carros estiverem no comboio, mais aumenta a economia de combustivel, desde que se mantenham a uma distancia de dois metros. A partir de seis carros, o total da economia de combustivel chega até incriveis 30%. Claro que isto não se consegue reproduzir no transito, o risco de colisão é alto. Mas o assunto aparece porque dirigir em comboio será a pratica dos carros sem motoristas, com distancias e velocidades mantidas com precisão, porque os carros se comunicarão, estarão em rede quando próximos. Esta tecnologia de conexão dos carros entre si parece viavel
Em outro tom, em Boston, a policia fechou uma empresa que pilotava um aplicativo de celular que organizava caronas. O sindicato dos taxis alegou serviço ilegal e conseguiu uma sentença de um juiz. Ei taxis de São Paulo, voces estão na reta! Caronas eliminam carros das ruas.
Busquei tuites com a palavra "driverless" e apareceu um artigo bem arrumado sobre as "Cinco Razões Porque O Carro Sem Motorista É Inevitavel". Basicamente são estas mesmas razões nas quais eu acredito.
Para os que querem uma analise de profundidade no assunto, a Forbes está publicando uma série de artigos que analisam com rigor todos os angulos, "Amarrem Seus Cintos". Qual a estratégia real da Google - distribuir gratis o android dos carros? Como a industria automotiva reage a isto, uma vez que eles são pés-de-chumbo e adoram dirigir? Resistirão racionalizando ou se transformam?
23 fevereiro 2013
Os Robocarros 1
(Origilmente pub. Em fev 2013)
Eu tive um sonho...não haviam mais congestionamentos.
O carro sem motorista pode chegar ás nossas ruas antes do carro elétrico?
Disruptura
Ainda não achei uma tradução que prestasse para a palavra "disruption". Pode ser interrupção, quebra, ruptura. Disruptura existe? Disruption tem sido empregado para descrever o que acontece com empresas ou setores da economia que encontram um concorrente digital que literalmente dissolve o negócio. A disruptura que as máquinas fotográficas causaram no negócio da fotografia, por exemplo: sai de cena um negócio de 100 anos e começamos tudo de novo. Cada vez mais este é um processo em aceleração permanente. A industria fonográfica, uma das primeiras, se não foi a primeira, a sentir o calafrio da dissolução causada pela entrada no reino digital. Tudo que se digitaliza entra para a fila de espera da inovação digital que desmancha o negócio analógico. Os jornais, os livros, os relógios, o correio, o cinema, tudo se transforma quando digitalizado. Os antigos impérios industriais se renovam em cima da internet, agora diluídos na mão de programadores ou de empresas de captura e organização de bits. Estamos todos nos transformando em processadores de informação. Quase tudo que fazemos com nosso tempo é lidar com informação digitalizada. Com as impressoras 3D, as coisas estarão sendo digitalizadas e lá vamos nós, rumo a muitas outras disrupturas: aparelhos de barba, talheres e pratos, óculos, brinquedos. Coisas adeus, vocês estão na fila.
Mas pode ser mais louco ainda. O automóvel vai entrar na roda.
Nas ultimas semanas, notei que alguns lugares do mundo estão anunciando que autorizaram a circulação de carros sem motoristas por suas vias. Li por ai, nas redes. Oxford na Inglaterra, a California e outros estados americanos. Procure no YouTube por driverless ou self-driving car e lá está o carro do Google, mas também dos fabricantes e das universidades, todo mundo testando. O conceito está na rua, é de quem fizer primeiro. E nada impede de acontecer aqui no Brasil. Alo FEI, ainda tem engenheiro automobilistico por ai? Uma vez demonstrada, a idéia absurda é razoavelmente simples. Para tudo acontecer precisamos de um automovel comum. Não é preciso ser um carro elétrico ou topo de linha. Digo mais, o carro sem motorista vai chegar às nossas ruas *antes* do carro elétrico, porque requer menos inovação. Precisamos de um carro comum com algumas adaptações: um sistema de motores pequenos, para acionar a suave direção elétrica. A aceleração eletrônica também está pronta. Um controlador para o breque, acesso às luzes e pisca pisca e pronto, seu carrinho de fábrica já tem a interface para o computador que vai reger o carro. Computadores também estão no ponto, imagino que um netbook teria potencia suficiente de processamento, memoria e velocidade, nada sério. Ao computador vamos ligar um GPS de precisão, pronto. Vamos ligar também um celular com dois chips, por redundancia e vamos ensinar este celular a manter um sinal de 3G sempre ativo, alternando entre as operadoras caso necessario. OK, vamos fazer com 4 chips de 4 operadoras... Estou descrevendo a versão brasileira do carro sem motorista. A ideia é ter uma via de internet sempre aberta, acessando os mapas, estes mapas tão completos e uteis que já usamos, prontos.
Entram em ação os hackers, que precisam pedir emprestado um software de "auto-direção" que já esteja sendo usado e testado, precisamos adapta-lo á nossa moda de dirigir. O programa que faz a porra toda funcionar. É só um programa, código, alguns Mb, mais simples que o photoshop, imagino. Vem por email.
Falta algo, o sistema de sensores que vai descrever para o computador o que está acontecendo em volta. Radares automotivos 360 graus. Em 30 segundos localizei o consórcio europeu que está tratando de normalizar o assunto... Já tem o similar asiatico funcionando, certeza.
Deveria estar fundando uma startup.
Porque não passa disto, juntar uma porção de coisas que estão prontas, faze-las funcionar de uma forma nova, sobre a qual ninguem teria o que reclamar, afinal, voce só está ensinando um automovel a fazer o que ele foi feito para fazer!!!
Um instante de sincericidio. Eu não tenho automóvel, eu não dirijo automóveis, eu nunca aprendi a dirigir. Portanto, terei lucro pessoal no caso desta história atrair seu interesse e ganancia.
Suponhamos que em seis meses, um ano, alguem consiga fazer um carro andar sózinho pela Vila Madalena. Um carrinho nacional fora da garantia. Para não causar suspeitas nos guardas de transito, foi colocado no lugar do motorista a metade superior do Ricardão, aquele manequim de fiscal da CET que foi sequestrado. Do lado dele, um empreendedor com um controle de PS2 para ir acertando o algoritmo. Depois de algumas voltas e dentro da normalidade, com arranhões e pedaladas de motoboy, o protótipo seria batizado Beta, 100% reciclado. Pintado de branco, iniciaria uma vida de taxi pirata, atendendo só pelo 99Taxi, trocando SMS com seus fregueses e recebendo só cartão. Possivelmente teria uma vida util de tres anos antes de ser parado numa blitz ou afogado numa enchente.
Outros protótipos seriam construidos. A Santa Efigenia e a Rio Branco se uniriam para oferecer os kits e a instalação dos kits. Apareceria uma comunidade no Orkut chamada "veja mãe, sem as mãos". Santa Rita do Sapucai, MG, a cidade da eletronica seria a primeira a autorizar o uso da via pública para os auto-carros. Dois anos depois do Beta sairia no Fantástico e na Folha, seguidos de veementes editoriais contrarios à moda dos auto-carros, apesar de ninguem estar vendo nenhum problema.
Em dois anos, como aconteceu com os carros a gás, teriamos uma industria alternativa, produzindo, distribuindo e instalando auto-carros com garantia das fábricas...
Como o unico acidente fatal acontecido por culpa de um auto-carro aconteceu porque ele levou um raio, ele passou a ser percebido como seguro, na verdade, bem mais seguro, muito mais seguro, absolutamente seguro, por não beber, não ter humores nem dias piores, não ter um ser humano falivel no comando.
O auto-carro inicialmente se comportava no transito de forma normal, seguindo em frente quando possivel, dando setas antes das curvas e respeitando ciclistas, isto influiu muito num relacionamento amistoso mutuo.`
À medida que a frota foi aumentando, as pessoas passaram a perceber que dois auto-carros juntos se comportavam como um unico, parachoques colados, acelerando e brecando juntos. Coisa de quem está em rede, trocando informações na velocidade da luz. Tres carros juntos no transito começam a ocupar menos espaço. Claro que o software foi sendo aperfeiçoado para brincar de trenzinho e também para ir chegando nos limites. É divertido ver comboios de meia duzia de carros indo na mesma direção, parachoque com parachoque, no limite de 90km/h da Marginal, contornando os motoristas sem nunca esbarrar em nada. Competições intermeios em trajetos na hora do rush, que sempre eram vencidas por ciclistas, passaram a ser lideradas por auto-carros, por sua capacidade em seguir percursos alternativos sem se perder. O seguro quase gratuito, a economia de combustivel e as revisões mecanicas programadas automaticamente fizeram com que houvesse um clamor popular pela venda de auto-carros zero. Durante a Copa, turistas de todas as nacionalidades que se jogavam na frente dos autos para ve-los parar automaticamente se acidentavam quando haviam motoristas presentes. O tema dos autos dominou a eleição e não deu outra manchete.
Haddad reeleito: vamos acabar com os congestionamentos.
Dai para a frente vira especulação, não quero iludi-los. Forças estranhas se aliam e geram resultados imprevisiveis. Mas algumas coisas serão inexoraveis. Leis ampliando a punição financeira para motoristas bebados ou desatentos e a proliferação de autos coletivos, autotaxis e aplicativos para caronas começam a mudar o desejo de posse de carros. Pela primeira vez em São Paulo diminui o numero de carros licenciados, a cidade exporta seus carros usados para o Paraguai. A frota de autos atinge 30% e a velocidade urbana retorna para os niveis da década de 80, média de 26km/h. Camara aprova criação de faixas exclusivas para ciclistas e motos, redes sociais caem matando dizendo que não precisa, se tiver mais autos. Autos vazios são queimados por mascarados. Conflitos se espalham nos bairros. Frota de autos atinge 50% e CET inicia retirada de semaforos. Estudos apontam: menor indice médio de congestionamento já medido na cidade de São Paulo. Não gostaria de acordar agora, juro.
***
Mas acordo com um susto: esqueci da caixa de cambio no meu dream car... dai que não pode ser um carro comum, teria de se instalar uma transmissão eletronica, que muda as marchas num botão, como se usa nos carros de F1 e nos carros adaptados para pessoas com deficiencia. Isto pode adiar os planos. Fui procurar e não existe solução simples. Foi divertido mas eu disse que era um sonho, certo? Disrupturas geralmente começam assim.
Assinar:
Postagens (Atom)