#listadaslistas de 2024
Primeiro os agradecimentos de sempre. Esta lista só sai porque os amigos participam. Este é um trampo coletivo voluntario, de gente que gosta de ouvir música e de trabalhar com música. Uri Dayan, que digitou boa parte dos votos, Rafael Lopes do Hits Perdidos, que caçou listas como um louco, Elson Barbosa do SineWave e David McLaughlin do Brazil Calling, que estão direto no plantão. Voluntarios se apresentem.
Esta é a decima primeira edição da "#listadaslistas". Todas as edições anteriores estão disponiveis aqui no Peripécias, basta clicar no menu ali do lado. Alem disso recomendo a discussão primordial sobre "reputação", tambem ali no menu, onde começou a procura por um novo mapa da música depois da digitalização. Não é facil entender o campo onde está a música brasileira atual, escondida atrás das moitas.
De um lado na paisagem tem a música comercial, criada como produto, encaixada nas categorias de mercadoria do mercado, ritmos do momento ou sucessos da semana, tres generos hegemonicos disputando a liderança, o forró, o funk e o sertanejo. O resultado, cada vez mais-do-mesmo, pouca variedade, pouca invenção. De vez em quando sai um fora da fôrma, tipo Descer Para BC, uma MTG ou uma sátira de Racionais do Grelo. A massa sonora comercial é uma montanha uniforme e gigante, ocupando o tempo, o espaço e o dinheiro da música no Brasil.
Não vou perder seu tempo com isso. Falemos da Música Brasileira que tensiona e questiona essa música invasora de si mesma. Dentro dela coexistem os generos, os artistas, a produção musical. Essa Música Brasileira que me interessa é feita por artesãos que conseguem resultados impecaveis em condições no minimo precarias. Em sua maioria são artistas à margem da industria, vivendo de shows, viajando pelo Brasil e pelo mundo. São artistas maduros, mesmo quando iniciantes, é preciso maturidade artistica para fazer um album cheio, donos de sua linguagem. Estou falando dos artistas que conseguem ser indicados em listas de melhores discos, ou favoritos, do ano.
Essas listas são um costume tribal que pegou, só aumenta o seu numero com o tempo. Listas penduradas pela internet, dos amadores nas redes sociais e em muitos sites que falam de música - onde foi parar o atual jornalismo musical. Só recolhemos os votos, ou indicações, dos discos brasileiros do ano. Conseguimos capturar muitas listas de fora do Brasil, com votos em discos brasileiros. Foram 60 listas gringas de 19 países, principalmente Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Portugal. Os artistas que se destacaram fora do Brasil: Amaro Freitas, com incríveis 27 indicações; Crizin da Z.O., com 7; Dora Morelenbaum com 6 e a Céu com 5. Com certeza o fato de Amaro ter feito um disco sobre a Amazonia para um selo ingles ajuda a explicar essa penetração internacional. Vale notar que a maioria das listas votaram apenas em Amaro dentro de um panorama de jazz do mundo.
É preciso olhar para uns numeros, esta é a linguagem da #ldl. Foram 308 listas em 2024. No total, 670 discos foram votados. Caramba! Seguindo uma onda que se repete todo ano, 371 desses discos tem apenas 1 voto. Brodagem ou interesses, se explicam, fazem parte do esporte. Ainda nesse território, 91 discos tem 2 votos. Escapando com 3 votos até 15 votos temos um pelotão intermediario de 158 discos, com muita gente boa. E chegamos ao Top50, os 50 discos mais recomendados do ano, a partir de 16 votos até o campeão avassalador deste ano, com 118 indicações, o mesmo Amaro Freitas.
Que espanto. Música instrumental, abstrata, jazzista, desenhando a Amazonia com um piano. Um disco que foi espalhado pelo trajeto a pé, Amaro tocou em todo canto, vem fazendo isso há anos e construindo uma...reputação... de músico instigante. Tanto ele quanto Hermeto Paschoal, com um disco também instrumental em sexto lugar, com 61 indicações. O Campeão é reconhecido pelos aficionados na Música Brasileira. Dê uma olhada na lista e vai reparando, especialmente no que voce não conhece. Porque eu garanto que ninguem conhece Todos Os Artistas, é impossivel. São muitas vertentes e muitos estreantes.
Muitos experimentos, muitas misturas improvaveis, algumas doces outras indigestas, mas nutritivas. Veja o metal psicoprogressivo do Papangu, de João Pessoa, o metal punk e filosófico do Black Pantera, de Uberaba, o tanto que o hiphop/funk/rap ta inventando caminhos, tai o Crizin da Z.O., o Negro Léo o Caxtrinho, esses tres do magnifico selo QTV, reduto do experimental carioca, com 60 titulos no catálogo, ativo no Bandcamp. Parabéns é o minimo. Este é o selo que mais se destaca na #ldl2024. Outros selos independentes conseguiram trazer dois discos no Top 50: Balaclava,Coala Records, Deck Discos e Dobra. As grandes empresas fonograficas, como sempre, junto com todos os outros selos e produtores independentes, conseguem apenas um disco, a Som Livre, a Universal e a Sony.
Outro aspecto interessante é a questão dos produtores destes discos. Praticamente cada disco tem um produtor ou uma equipe de produção independente, não há um mago dos discos. A excessão é Rafael Ramos, proprietario da Deck Discos que participa da produção dos seus dois lançamentos presentes na #ldl2024, Black Pantera e Dead Fish.
A distribuição geografica de onde vivem os artistas do Top 50 segue o mapa da Música do Brasil: 14 em S.Paulo, 7 no Rio, 4 em BH, 3 e Salvador e Recife, 2 em João Pessoa e Florianópolis e mais 20 cidades com um artista.
Finalmente, a questão das listas, que seguem sendo um excelente painel sobre a produção musical no Brasil. O canal com mais listas em 2024 é o Instagram, com 128 listas, depois vem os sites de música com dominio próprio, onde mora hoje a critica musical. Em seguida, pela ordem, Youtube com 17, Medium com 14, o X com 8, o Substack com 7, Portais varios com 6,TikTok com 5 e segue a lista com jornais, revistas, Word Press etc com 3 ou menos listas.
Para os mais fissurados em seguir esta pesquisa, posso fornecer acesso à planilha, basta me pedir com jeitinho, declarando seu interesse. Volto a dizer, se voce tem este mesmo TOC de entender as coisas do mundo por numeros numa planiha, declare-se voluntario para a empreitada do ano que vem, tudo aqui pelos comentarios.
Sei que é assim que a música funciona, se movendo pela renovação, pela tensão, pelo imprevisto. A música busca escapar das prisões anteriores para criar o futuro e aqui no Brasil o que não falta é gente disposta a correr perigo e fazer música só para os loucos, só para os raros.
Segue a lista, o Top 50 de 2024, em ordem alfabetica dos artistas, anote os que voce não conhece e vá à luta.
Aguardo seu comentario disposto ao debate.
Abaixo, as listas que foram as fontes dos dados de votação, em ordem alfabetica, com um numero de ordem e o numero de votos que foram computados de cada lista. Muitíssimo obrigado a todos. Muitas listas vieram de sites que falam de música, especialmente da música que vem compor esta seleção. Estes sites devotados disputam a sua atenção, falam de um assunto que te interessa, prestigiem.
Bacccios
Pena
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