26 outubro 2007

Como foi que aconteceu este pesadelo? Parte 1

Nas andanças por ai, apareceu este artigo no blog do Lenny Beer, que escreve no Hits Daly Double, uma revista do entretenimento/radio/showbiz e discos, o complexo fonografico, modelo antigo. Coisa de profissionais calejados para ratazanas do mercado. Zero Arte. Uma folheada mostra a animada dança das cadeiras na industria, a fofoca que o ex capitão da EMI teve de devolver as chaves de um belo apartamento corporativo em Londres ao ser despedido pelo novo dono do Abbey Road. Outra matéria é sobre o torneio de golfe entre os donos da midia, ou ainda a noite de caridade em beneficio da fundação que tem o nome da própria mulher do Gene Simmons do Kiss, um empreendedor maniaco. Enfim, deu para perceber que o negócio são os negócios.
Pois o Lenny Beer parece que anda lendo o Lefsetz que citei ontem e foi tomado por um súbito acesso de auto crítica, se perguntando o que pode ter causado tamanho revertério no gentil mundo da música que fazia um adolescente gastar seus trocados em singles de 45, aqueles que tinham um furo grande no meio e que continham música tão poderosa que fizeram ele se dedicar a trabalhar com isso a vida inteira. Como foi acontecer este pesadelo? Parte 1.

Seguem-se alguns metros da melhor prosa sobre a industria fonografica, pelos leitores do referido magazine. Uma parte dizendo que deve se incluir os meninos que fazem downloads ilegais no rol dos terroristas procurados e outra parte, a maioria, simplesmente apontando com incrivel precisão para a própria industria e sua cobiça e má administração, repetindo, agora com conhecimento de causa, como teria sido fácil cooptar o Napster, como a internet teria multiplicado por mil o poder e a glória, como foi que eles - geralmente os ex patrões - foram tão cegos e perderam tudo.
Perderam o radio, para as radios que só tocam comerciais e leem noticias, perderam a arte perdida de descobrir talentos para o You Tube e por ai vai, quase sinto um gosto de vingança se não fosse tão triste.
A maioria concorda que a música vai bem, mas o negócio da música jamais será o mesmo.

Faço questão de por estas palavras ao vento aqui, porque sei que ainda não está sendo proferido este discurso em portugues e será necessario que se purgue esta culpa, para que começe a cair a ficha geral por aqui também.

Foi no meio da década de 1985 que música virou produto. Também acho.

Vale muito a leitura.
E preparem seu coração, porque vem ai a parte dois de "Como Foi Que Aconteceu Este Pesadelo?"

25 outubro 2007

Lendo o Lefsetz Letters e filosofando sobre música.

Tenho lido diariamente o Lefsetz, que é do ramo da música, um analista profissional, e vem escrevendo faz muito tempo um newsletter, era de papel e cheguei a assinar, no século XX. Pois o blog dele tem se transformado num diario de coração aberto, coisa de separado novo e ele anda meio emocional, procurando onde foi parar o amor que ele tinha pela música e que de repente se perdeu na cacofonia do mercado fonografico dos ultimos anos trovejantes. Pois não é que dá uma felicidade incrivel ao ver que ele está sim redescobrindo que a música é digna do nosso amor e que as canções são obras de arte que modificam a vida do sujeito e que, no meio disto tudo ainda pode existir aquele fogo sagrado que fez a nossa cabeça nos 50, 60, 70 e 80.

Acho que é melhor voces investirem um tempo lá, pode valer a pena, parece um bom livro de estrada.
Pois hoje fui responder um questionario de trabalho de escola, sobre industria fonografica, coisa que me acontece de vez em quando, e quando vi, já estava filosofando sobre música e acho que gostei, até citei o Lefsetz. Portanto , trago na integra e se alguem quiser cooperar com a Juliana, pode responder e mandar direto para ela.
Só deixando anotado, que o Antony and the Johnsons acabou agora mesmo e que foi Belo e emocionante, muito melhor que nos discos e capaz de mudar tua vida.

Questionário | Monografia “GARAGEM DIGITAL” | Por Juliana Guerrero Garcia [guerrero.ju@gmail.com]

1. O que é música para você?

“Algo que faz vir á tona o melhor de nós.” http://lefsetz.com/wordpress/

2. Qual a relação entre o seu trabalho e a música?

Minha profissão é produtor musical, fazer acontecer a música, sem tocar nenhum instrumento.

3. Quais são as mídias que você utiliza para escutar música:

( ) Rádio

( ) TV

( ) CD

( ) DVD

( ) Internet

( ) Celular

( ) MP3 Player

( ) Outros. Cite: Todas e nenhuma, ouço com meus ouvidos.

4. Cite um músico que você aprecie. Por quê?Qualquer um que consiga me tocar, a lista é variavel com os humores e com a lua.

5. Qual a importância da música para a publicidade? Qual jingle e/ou música mais te marcou até hoje? Cobertores Parahyba. A importancia da publicidade para a música é quase nenhuma.

6. Qual é o papel do rádio para um músico? E o da TV? No século XX, o radio mostrava as musicas que todo mundo ouvia, a TV mostrava como os músicos se mexiam e o que eles vestiam. Hoje, no radio, ouvimos noticias e um xarope auditivo feito para acalmar o tédio e mudamos de canal se aparece música na TV, não é? Ou sou eu na meia idade?

7. Você costuma baixar música pela Internet? Como?Sim, como informação, como meio de ouvir o que se faz de música nova, como meio de escutar as músicas que não estão á venda, como meio de me situar como público ouvinte, descobrir o que gosto ou não.

8. Como você percebe a relação entre a Internet e/ou tecnologia e os músicos?

É um canal de transmissão, entre alguem que empunha um instrumento musical e meus ouvidos, muito util.

9. Como você descobre novos músicos e bandas hoje em dia? Confiando no acaso, que coloca coisas incriveis na frente da gente.

10. Qual é o papel da gravadora para um artista hoje? As Majors: Restrito ás dezenas de artistas ativos com contrato assinado, portanto irrelevante para a música. Os independentes podem ser um parceiro de trabalho.

11. Você acredita que o modelo da indústria fonográfica atual está certo? Por quê? Não existe modelo atual. Existe o modelo circa 1985 patinando sem chegar em 1986...

12. Qual a sua opinião sobre pirataria musical? Sou solidario aos músicos. Para alguns é a morte comercial, para os outros é tudo que eles tem.

13. Qual o futuro da música diante da era digital? Como será o processo de consumo da música? Continuaremos sentindo as mesmas emoções que são transmitidas pelas músicas, desde que elas nos encontrem da maneira certa e tanto faz o caminho que elas percorrem até nossos ouvidos e corações. O resto é tão importante quanto o discurso pelo fim das guitarras elétricas, passará sem eco.

14. Você usaria a Internet para divulgar músicas de sua banda? Por quê? Porque funciona, oras.

15. Você acredita que esta evolução da maneira de se usufruir a música é positiva ou negativa para a sociedade? Explique

Perdão, não evoluiu nada. Continuamos a ouvir a música em volta de nós, desde o tempo que descobrimos que gostamos de música o dia inteiro. Antes do ipod havia o radio transistor, e antes dele o gramofone e antes dele assobiavamos, carregavamos uma gaita no bolso ou a flauta de osso de 40 mil anos atrás, que já era portatil.

Há uma industria contemporanea, que costuma contribuir com empregos e renda para a sociedade, particularmente para seus maiores acionistas.

16 Você gostaria de destacar algum aspecto sobre o assunto, que não foi discutido neste questionário? Cite

OK, eu acompanho avidamente todas as noticias e novidades tecnologicas, o borbulhar de todas as tendencias, o turbilhão de negocios que afundam e que prosperam aparentemente todos querendo fazer a mesma coisa, atender o consumidor e seu desejo permanente de música.

Embaixo da ponte já passaram o vinil, o CD, o mp3, a frase Disco é Cultura, a critica musical, lembra? Tenho certeza que voce sabe do que estou falando e que se tapar o ouvido para a balburdia do mercado, vai escutar uma melodia. Escute, musica é só isso.

Pena Schmidt,

(acho que vou publicar em meu blog, me diverti)

01 outubro 2007

Radiohead novo: quanto voce pagou? In Rainbows na cabeça.

(Este post vai seguir o assunto e mudar com ele)
em 2 de outubro de 2007:

Fulminante!
Polêmica estabelecida aos primeiros minutos da divulgação da sacanagem proposta pelo Radiohead no site In Rainbows, nome do disco.

" ... Fizemos um disco novo ( inédito na rede!!!) e ele está disponivel apenas neste site.
Aqui voce compra um download ou um pacote de plástico com extras e bolachas de vinil e tudo que os fãs tem direito, por 40 Libras.
O download custa o que voce quiser pagar, mais uma taxa de 0,45 libras, um real e pouco. IS UP TO YOU! * VOCE DECIDE QUANTO VALE! *..."

Deve ferver. Meu palpite é um milhão de downloads pagos, até 10 de outubro, quando começarão a ser entregues. Meu outro palpite é que o valor médio será 5 libras, ai um real por música. Veremos...

Esta aposta na inteligência do mercado diz o seguinte:
1) chega de intermediarios e pedágios, as gravadoras perdem espaço, sempre.
2) deixar aparente quanto vale a música, isto é um leilão e pode surpreender.
3) boas idéias ainda valem por si mesmas, garantiu a nossa atenção, certo?
4) o mundo é pop e gosta de ter assunto, será que eles vão perder dinheiro?
5) e tem um desafio: paguei mais ou menos do que vale?

Espero que eu goste, porque não resisti e comprei, por 5 libras, eles merecem!

(3/out)
No dia seguinte: Como era de se esperar, deu em todos os jornais importantes, em todos os blogs de música e promete continuar pelos próximos dias. Um artigo interessante no "Freakonomics" do NYTimes, para variar, traz uma excelente amostragem das opiniões dos leitores, com enfase nos aspectos economicos da proposta, confira aqui.

(13/out)
No fim dos dez dias, um primeiro balanço: chegou, ouvi e gostei, é pop do século XXI, deixa marcas, não descartavel e estou tocado pela melancolia transparente que também sinto nestes dias de luta. O mundo está triste e pensa na morte, como eu. Os artistas precisam fazer isto, para ser música.
Gastei bem meu dinheiro, mostro para todo mundo e empresto com um certo sabor de proprietario. O som é imaculado e deu vontade de ter os vinis para ouvir Tudo. Funciona, como há muito tempo não via. Que venham os próximos, não vai ficar só neles.

Ontem conversei com Mauricio Tagliari, meu personagem leitor, falei sobre outros que irão seguir a idéia. Já deu no jornal. Oasis, Jamiroquai, Charlatans, a lista começa.

Se funciona, por que não? Chama-se passar o chapéu. Quanto voce paga pelo que pode ter de graça? Só se me convencer, não é? Adeus music business, marketing, e numeros de vendas como donos do pedaço. Voltem 2 décadas e retornem á posição auxiliar.

O novo dono da EMI gostaria muito de acordar sua companhia, seu Hands, mas não há o que fazer, a não ser inventar um motor movido a xixi de elefante e se transformar no dono de todos os elefantes, esqueça a industria automobilistica. A tese não é minha.

Ainda ao som de In Rainbows, rolam boatos de dois numeros: um milhão de downloads, dois terços pagantes e o preço médio apurado em pesquisas foi 7 dólares, estou um milimetro acima da média. Uns 5 milhas pra banda, not bad.

Propus quase isso em 2004 na Trama, com a Fernanda Porto, tivemos mais de cinquenta mil downloads incentivados, só faltou passar o chapéu.