sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Virgin Music Unlimited: tiro no pé com precisão. No gatilho, Sony e Universal, suicidas.

Pode pesquisar: Virgin Music Unlimited. A história já ferve pela rede.

Pelo que entendi, teria sido um projeto capaz de virar o jogo, na Inglaterra pelo menos, mas com certeza apontaria pro resto do mundo uma direção para se escapar dos crueis impasses que estão cristalizando o fracasso da industria da Música.
Simples, uma assinatura com um provedor de banda larga cujo preço incluiria toda musica que voce conseguisse baixar , e tambem copiar, emprestar, colocar em torrents, enfim fazer o que se faz por ai todo dia, mas com um preço embutido, algum dinheiro sendo recolhido para a Música pela circulação gratuita de arquivos.

Lá dentro do provedor, uma tecnologia que já custou milhões chamada de Pacotes Profundos seria capaz de acompanhar quais músicas estariam circulando, mesmo criptografadas, identificando e gerando um relatorio de uso, e assim o dinheiro da música seria distribuida proporcionalmente aos respectivos detentores dos direitos autorais e fonograficos. Faz todo o sentido, a lógica é exemplar, por seguir o mesmo raciocinio existente hoje, com os ECADs distribuindo royalties de acordo com a circulação da Musica, proporcionalmente ao uso e as fatias de cada dono bem estabelecidas, os representantes de autores, interpretes, produtores e músicos acompanhantes.

Era a primeira forma de conseguir captar e distribuir algum dinheiro com a música que circula de graça.

Fazer funcionar este sistema teria sido uma façanha tecnológica digna do passado de empreitadas de sucesso da Virgin: a primeira megastore ainda no tempo do vinil, uma gravadora que aprendeu a virar empresa de transportes com trens e aviões rock 'n' roll, dona de festivais de verão, telefonia celular, banda larga e passagens de avião para o espaço. Eles teriam muque para esta função. Depois de escalar o Everest e entrar em órbita, Sir Richard Branson ainda precisava enfiar a lança no dragão da indústria fonografica na internet.

Algumas semanas antes do lançamento previsto do primeiro P2P pago, ainda com o nome Virgin Music Unlimited, desembaraçando o nó dos direitos autorais e das licenças com as gravadoras, editoras e arrecadadoras de direitos autorais, tudo caminhando para o inicio do processo, e de repente, pimba! Mirando no próprio pé, duas majors trazem condições novas para o jogo e inviabilizam o conceito.

Em vez de liberar, consentir no trafego de músicas para gerar mais adeptos para o sistema, em vez de incentivos, a Sony e Universal preferiram usar o mecanismo capaz de identificar as músicas para brecar quem estivesse usando suas músicas indevidamente, para poder processar os usuarios que fizessem uploads num P2P pago. Bizantino, mas continuam no emprego.

Sir Richard preferiu abortar o lançamento do VMU, sem concordar com a sugestão. Há esperança que se retomem as conversas, mas oficialmente se anunciou a morte do projeto.

Assistir a este filme de longe, quase no carnaval, dá vontade de empinar pipas.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Creative Commons na Casa Branca

Assim que assumiu Pai Obama mandou todos os marajás e barnabés nomeados assinarem um compromisso com a ética, banindo do governo coisinhas obvias tipo receber presentes ou continuar a dar consultoria para os antigos clientes ou patrões.
Depois, revogou uma ordem de novembro de 2001, do tempo que ainda saia fumaça do chão das torres gemeas, quando se criou uma cortina de segredo sobre todas as atividades do governo federal americano, algo que ele julga desnecessario hoje, portanto a ordem agora é transparencia total. Segredos precisam ser justificados.

E para dar o exemplo, trocaram imediatamente o site da Casa Branca que agora reflete praticamente o site da campanha, que virou site do governo em transição e agora é o site do governo. Todas as promessas de campanha estão lá, devidamente organizadas e atualizadas, com datas e metas. Nào é marketing, é agenda de governo, explicando como vamos fazer em cada area, quando e por que.
Todos os decretos e deliberações do presidente serão expostas ao publico no site por 5 dias para que se possa opinar, ainda há um blog do governo e por ai vai. O tema da mudança vai cansar um dia, mas enquanto isso, é mudança palpavel, mesmo que escrita até com as menores letrinhas.

De forma discreta e minuscula, no pé da página do site da Casa Branca, há um menu de serviço, onde aparece o item "Informação sobre Copyright", entre Acessibilidade e Privacidade. Ronaldo Lemos havia me dado a pista ontem à noite, no lançamento do livro Tecnobrega dele e do livro que participo, O Futuro da Música Depois da Morte do CD. Vai lá, pode clicar disse ele e acredite se quiser. Surpresa! A Casa Branca aderiu ao modelo Creative Commons de proteção à propriedade intelectual para as participações de terceiros, o seu palpite registrado sobre algum assunto será livre e gratis para todos. O conteudo oficial não tem nenhuma proteção, nem CC, e pode ser usado livremente para trabalhos de escola ou pela editoria internacional dos jornalões.

Está lá, nas menores letrinhas, no fundo da página, diz respeito apenas às participações de terceiros, mas é uma licença Creative Commons.

Chama-se liderar pelo exemplo.

Subitamente, é necessario voltar a falar do assunto, tentar entender melhor o que quer dizer Creative Commons e tentar entender porque Señor Obama liberou geral desta forma, e não de outra.

No item Tecnologia de sua plataforma eleitoral transformada em programa de governo, está lá bem claro que ele se dispõe a Reformar o sistema de patentes para fortalecer a Inovação e a Colaboração. Lá está dito que ele pretende dar um update no sistema de copyright, onde se incluem os Direitos Autorais. Vou colar:

Protect American Intellectual Property at Home: Update and reform our copyright and patent systems to promote civic discourse, innovation, and investment while ensuring that intellectual property owners are fairly treated.

Obama San é um ser letrado, autor de dois livros, respeita os investimentos e recebeu publicamente o Professor Lawrence Lessig para conversar antes da posse. Dr. Lessig é Professor de Harvard, advogado constitucionalista, criador do Creative Commons como alternativa a um sistema de proteção da Propriedade Intelectual que ele chama de inapropriado porque desenvolvido para defender o interesse de alguns, incluindo o Mickey Mouse, em detrimento do bem maior, o copyright atual senta em cima de toda a criação intelectual e artistica do século, impedindo sua circulação mesmo que não hajam prejudicados ou interessados financeiramente.

Sinais de que haverá mudança na Propriedade Intelectual (e isto inclui a Música). Não será imediatamente, as letrinhas tão pequenas dizem isso, mas esta sendo mandado um recado para que se retome esta discussão com boas maneiras e sendo razoaveis. O cara mais forte do mundo está assumindo posição, sim podemos mudar.

Por aqui também se prepara proposta de mudança de Direitos Autorais, em algum lugar há uma discussão tecnoburocratica, mas ao mesmo tempo se aumentam por decreto os impostos sobre as industrias criativas, os produtores de cultura do Simples, logo eles os menores...

No congresso brasileiro circula uma proposta de se isentar a produção musical de impostos, como se isentaram os livros, que são imunes, nenhum imposto pega neles. A classe musical não sabe ou não fala do assunto, a imprensa ignora junto e ficamos assim, Pai Obama olhai por nós...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Filosofando na padaria

Sem querer, dei com esta cronica de 2002, preservada num arquivo de mensagens do samba-choro

Como estavamos falando sobre O Destino da Música, e eu acredito em intersecções quanticas dos significados, achei bacana trazer estas oportunas reflexões á luz de 2009 e ver que a lógica continua viva.

Filosofando na Padaria:

Pena,


Como você sabe, a padaria é um ótimo lugar para pensar em vários assuntos,
pois as moscas saem da cabeça e vão para os pudins. Assim, sobre os
privilégios de que estávamos falando, me ocorreu o seguinte:


1- Se o artista iniciante precisa de uma obra consagrada para firmar sua
carreira, essa obra tem um valor.


2- Talvez o novo artista ou seu selo independente não possam pagar esse
valor, bem como não podem pagar o valor de bons instrumentos musicais,
bons estúdios, locação do Credicard Music Hall, Olympia e nem contratar o
tio Pena, o dr. Yazbek e a Marilda Vieira para produzir, documentar e
divulgar os shows que também impulsionarão a carreira do artista.


3- Assim, como vemos, o artista iniciante necessita de várias coisas para
firmar sua carreira. Pergunto: Por que o compositor criativo, que pariu
uma obra capaz de alavancar a carreira de um novo intérprete, deveria ter
que aceitar um valor baixo para a utilização de sua criação enquanto
outros agentes do mesmo modo necessários para a carreira do artista podem
negociar seus honorários como quiserem?


4- Sabemos que essa não é a verdadeira preocupação de certas editoras, ou
certos herdeiros. Mas tirar legalmente a capacidade de todos os autores de
negociar a utilização de sua obra como nós fazemos com nossos serviços não
me parece justo.


5- Insisto, é necessário colocar os dois pés de artistas e compositores no
chão com relação a como suas criações serão administradas e até como seus
herdeiros devem proceder com relação a suas obras.


6- A indústria, sim, precisa perder seus privilégios. Administrou mal,
perdeu a renovação do contrato. Deixou de publicar por "x" tempo, perdeu o
contrato de edição.


7- Posso estar viajando numa talvez impossível transformação da natureza
do artista. Mas tudo andaria melhor se eles desejassem menos glamour,
carros, mulheres, mansões e mais uma carreira profissional, com todos os
passos, dificuldades e empenho que isso significa.


[]s,


FY


Caro Fernando Yazbek


...assuntos indigestos...


vejamos o mesmo pudim pelos olhos de outra mosca, que pousou na cafeteira
e ficou muito louca:


1) linguagem comum - não estamos tratando mais de uma invenção
absolutamente nova, um verdadeiro ato de criação, mas do uso comum de um
bem comum, a nossa cultura, estamos falando de arte popular, já em domínio
do povo, os gêneros musicais, formas artísticas devidamente mapeadas e
públicas. Se um artista quiser "inventar" uma música, deveria ter os
mesmos privilégios que os inventores têm, e sabemos que isso muda o jogo.
Esse é um fato recente, fruto de apenas 70 anos de cultura de massas e
meios de divulgação eletrônicos, que mudaram radicalmente o conceito de
propriedade intelectual e seu valor. Quando um artista ou obra é
mundialmente conhecido cria-se um produto imaginário, a soma de nossas
percepções. Esse produto não pode ter valor atribuído, não vale por si.
Vale pelo privilégio de oferecer novas informações sobre um assunto que
interessa a muitas pessoas, a vida útil do artista como gerador de valor.
Imagine se tivéssemos de pagar os mesmos direitos autorais aos políticos
por seus discursos, aos atletas por suas jogadas, aos personagens do
noticiário. A atividade musical pode ser equiparada a eles que também
fazem uso de nossa cultura e dos meios de divulgação.


2) privilégio de exclusividade da cópia - tudo começou aí, na indústria de
administração da cópia, e este é o papel inicial da indústria da música.
Quando não há mais obstáculos à realização da obra, ou seja, nada de
orquestras, estúdios, prensas, caminhões, lojas e estoques, acaba o
privilégio do produtor fonográfico, que originava o seu direito de cobrar
pelo serviço de administrar a criação da obra. Hoje, a produção de música
é uma atividade pessoal do artista e sua equipe, mais próxima, fica pronta
quando se fixa o fonograma, de forma muito simples. Há espaço para
intermediários, mas não existe mais a obrigatoriedade do artista ter de
passar por uma "gravadora". A distribuição da obra cada vez mais se faz da
mesma maneira, de forma autônoma dos sistemas industriais, através da base
digital. O mesmo começa a valer para a divulgação. Imagine, é como se
estivéssemos no inicio do século 20 e os fabricantes de carruagens
conseguissem administrar as ferrovias e os automóveis baseados em seus
privilégios anteriores, devidamente legítimos e regulamentados, de
transporte público.


3) proteção ao artista - e aos meninos de rua, aos poetas, aos pintores de
quadros, aos velhinhos que se lembram do passado, ao atleta e ao político.
A situação se coloca de forma exemplarmente corporativa e viva. Artistas
unidos jamais serão vencidos. E conseguirão planos de aposentadoria,
isenção de impostos, financiamento da casa própria, enfim essas coisas que
eles não tem no momento. Cidadania para o artista, esta é a plataforma
correta.


4) proteção à obra - que tal enquanto houver interesse por ela? que tal se
isto for um simples problema comercial, como a cotação do dólar e das
ações? Claro que música hoje é commodity. (Serei expulso do Paraíso por
isso!) Certas coisas deixam de ser negociáveis - casas são tombadas,
servidões, marcas entram no dicionário, os genéricos, a casa dos artistas
etc. etc. e o mundo roda igual. Qualquer perda vem acompanhada de um
esperneio e não se espera menos. A Música não precisa dos direitos
autorais, como estão, para continuar sendo um assunto do interesse
público, os artistas não se beneficiaram de tudo que foi cobrado como
direitos, temos de negociar novas condições sob uma ótica bem pragmática.
Uma obra tem valor e deve ser explorada, dentro de uma dimensão material
enquanto objeto de consumo. As regras que regem a proteção da obra não
podem ser justificadas pela manutenção do status quo simplesmente. A cópia
não é mais a obra, não faz mais parte do que deve ser protegido forever. A
obra é o conteúdo e sua exposição, que tal? Conteúdo é direito perpétuo,
direito pessoal do autor/intérprete, depois de alguns anos de privilégio
de uso direto, graças ao suporte imaterial na memória de todos, passa a
ser cultura, grátis. Algo como direito de arena faz mais sentido do que o
conceito de administrar autorizações para suportes ou formatos. Cobrou
para mostrar, pagou. Quem administra um repertório teria de pensar como um
administrador de portfólio, uma carteira de ações talvez, onde não é
negocio "ter" tudo, mas só aquilo que esta circulando, que tem valor por
ter interessados, gente querendo usar sua música enquanto ela tem
proteção. É muito importante se pensar no domínio público como sendo o
caminho para a propriedade.


A mosca saiu do quindim e chegou perto do seu x-salada.


Como administrar uma coisa que poderá ter milhões de interessados sem
nome, além de big players que pagam no atacado? Como cobrar royalties pelo
x-salada? Acho que só pela marca e pelo serviço, não é possível de outra
forma. O artista e seu charme como personalidade pública. Quanto tempo
leva para "New York, New York" ser cantada por todos os crooners de bares
que servem dry martini? Dez ou quinze anos de uma justa remuneração fruto
de uma carreira de sucesso. Depois disso é x-salada, meu, vira linguagem,
cultura, grafites na sua mente.


A mosca pousa no seu nariz e antes que você a sopre, ela ainda diz:


A pirâmide está pronta, agora o que eu faço com ela?
Nosso problema é mais ou menos parecido com a duvida do faraó. Temos de
atrair turistas, esta teria sido uma boa resposta há três mil anos e não
estávamos lá. Se a música brasileira adotasse uma postura diferente,
poderíamos invadir os corações e mentes de todo o mundo, passando a ser
uma commodity cultural como é a musica americana, enquanto os gringos
ficam lá teimando em querer a pirâmide só para dormitório deles.
Estas idéias de padaria precisam ser ventiladas para espantar as moscas.
abs


Pena

(Peripecias do Pena, 2002, no site showlivre)

O Futuro da Música Depois da Morte do CD

Pois então, faço parte do livro "O Futuro da Música Depois da Morte do CD" que está sendo lançado neste Campus Party 2009 e que pode ser gratuitamente e legitimamente baixado aqui.

Não tive a chance de ler, prometo voltar e comentar, mas parece interessante o conjunto de pensamentos reunidos, de academicos, músicos, engenheiros.

De fato, fica nítido que O Destino da Música, mais que seu futuro, é uma preocupação ampla. O que será da música?

Dois dias depois, já consegui ler, foi um passeio pelas 218 páginas. Se pudesse, reescreveria algumas coisas novamente, escrevo assim com o cérebro fervendo, mal dá tempo de compor a frase já tem outro pensamento pedindo para ser escrito, está tudo lá, mas como no estudio, se fizer de novo sai "a boa"...

Muito bom o conteudo do livro, o programa. Juntos mas cada um por si, mostramos que há uma cultura musical organizada, estruturada, fruto de sua época e dos recursos disponiveis, que refletiu com fidelidade a sociedade que eramos enquanto ouviamos música ao longo do seculo XX e que hoje, preocupados com as transformações trazidas pelos novos tempos, pelas novas tecnologias, estamos querendo preservar estes valores culturais, abalados e ameaçados por tensões e atritos comerciais, juridicos, financeiros. Acaba a indústria fonografica junto com o CD? Acaba a música? A resposta a estas perguntas voce terá depois de um simples download, ligue já!